Sessão
E Agora, Aonde Vamos?
Festival Varilux de Cinema Francês 2012. Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal Plaza R. Comendador Araújo, 731), (41) 3223-2527. Amanhã, às 21h40. Classificação indicativa: 12 anos.
O Festival Varilux de Cinema teve sua abertura no Rio de Janeiro na noite de quinta-feira com a exibição, em grande estilo, no tradicional Cine Odeon, da saborosa comédia dramática Intocáveis, filme de Eric Toledano e Olivier Nakache que levou nada menos que 20 milhões de espectadores às salas de exibição da França. A mostra deste ano, no entanto, tem um traço bastante particular e que a torna ainda mais atraente para quem tem interesse nas várias paisagens e temáticas que a sétima arte pode oferecer.
Dentre os 17 títulos selecionados, muitos deles são coproduções com outros países, e falados em outros idiomas. Dentre eles, o destaque é o belíssimo drama E Agora, Aonde Vamos?, da diretora libanesa Nadine Labaki, que estreou como diretora, em 2007, com o sucesso internacional Caramelo, provocativa comédia romântica sobre o cotidiano de cinco mulheres em Beirute, onde vive a diretora e também atriz principal do longa-metragem.
No ano seguinte ao lançamento de Caramelo, diante de uma breve, porém sangrenta guerra civil no seu país, Nadine resolveu que precisava mudar de tom e falar do impacto devastador sobre a população de um conflito fratricida, entre facções cristãs e muçulmanas, como o que havia ocorrido. "Eu havia tido um filho [com o compositor Khaled Mouzanar, que escreve as trilhas sonoras dos filmes da diretora], e comcei a imaginar se um dia eu o veria segurando uma arma e apontando para alguém do seu próprio povo, um vizinho, um amigo", justificou-se Nadine, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, realizada no Rio de Janeiro.
E Agora, Aonde Vamos? também fala de mulheres, mas sobretudo de mães, e do sofrimento de ver seus rebentos lutando uns contra os outros, de uma hora para outra, por questões políticas e religiosas, em uma aldeia do interior do Líbano. "Um dia estavam jogando bola, brincando, saindo juntos. No outro, se matando."
Dor
O longa-metragem tem início com uma belíssima cena de abertura: um grupo de mulheres, todas vestidas de preto, dirigem-se, por um caminho empoeirado, a um cemitério, onde estão seus filhos. Enterrados. Enquanto andam, fazem uma espécie de dança ritual, para expressar a profunda dor que sentem. É arrepiante.
Nadine diz que a cena tem como inspiração rituais de luto observados mundo afora, em que mulheres rasgam suas roupas, arrancam os próprios cabelos, se arranham e choram copiosamente, para expressar seus sofrimentos. "Não é uma cena realista, mas uma imagem que criei e que, de certa forma, resume o espírito do filme."
Recordista de bilheteria no Líbano, onde nenhuma produção nacional levou tantos espectadores aos cinemas, E Agora, Aonde Vamos?, conta Nadine, desde que foi lançado, em fevereiro deste ano, foi adotado como libelo nacional contra a barbárie da guerra entre irmãos.
As personagens, entre elas a protagonista da trama, mais uma vez interpretada pela diretora, são mulheres de diferentes gerações, todas muito próximas umas das outras, embora pertençam a grupos religiosos distintos. Elas se unem contra a guerra que mata seus filhos.
Nadine conta que é muito exaustivo atuar atrás e diante das câmeras, mas que, de certa forma, essa dupla jornada a permite compreender ainda mais o que pretende dizer com seu filme, embora também a impeça de ter absoluto controle. "Muito do que filmamos acaba sendo improvisado, acontece na hora, até porque, eu também estou em cena. Acho isso bom, no fim das contas", disse.
Em benefício do realismo com o qual pretendia impregnar a trama, Nadine optou por trabalhar com muitos atores não profissionais, sobretudo as mulheres que interpretam as muitas mães do longa. "Não queria que elas tentassem criar personagens, mas que elas fossem elas mesmas." O objetivo foi alcançado: E Agora, Aonde Vamos?, que estreia no fim de outubro no Brasil e será exibido em Curitiba dentro da programação do Festival Varilux, é uma experiência cinematográfica inesquecível. GGGG
O jornalista viajou a convite do Festival Varilux de Cinema.
Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.
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