A Prefeitura de Curitiba reduzirá pela metade a verba destinada às escolas de samba de Curitiba: elas receberão R$ 539 mil. Ainda é muito. Se fosse um real seria exorbitantemente alto. Enquanto o cancelamento da Oficina de Música de Curitiba não passou de uma jogada demagógica de Rafael Greca, o gasto público com carnaval não se justifica desde que o interventor federal do Rio de Janeiro no governo Getúlio Vargas, Pedro Ernesto, começou a dar dinheiro para as escolas de samba.
O desfile organizado com divisão de acesso, rebaixamento, campeão, tempo cronometrado, sambas-enredo exaltando a pátria, tudo isso é fruto do fascismo. No auge da ditadura de Getúlio Vargas, na década de 1930, influenciado pelos seus pares europeus, principalmente Mussolini, surgiu a ideia de mesclar as manifestações populares já existentes com o espírito nacionalista.
Em 1937, no mesmo ano em que Getúlio deu um golpe que o manteria no poder até 1945, foi estabelecido que todos os sambas-enredo fariam homenagens à história do Brasil. Foi a mesma ditadura que criou as regras de avaliação com juízes para os vários itens como figurino e disciplina. Para completar o clima de nacionalismo exacerbado, somente instrumentos considerados autenticamente brasileiros poderiam ser utilizados para a execução das músicas.
A intervenção estatal nunca foi necessária para estimular o carnaval. Antes de Getúlio Vargas, o povo fazia a festa por conta própria ao som dos batuques. A coisa toda começou a mudar de figura com o sambista Donga. Sua música “Pelo Telefone”, cuja autoria na verdade é um tanto nebulosa (mais de dez outros sambistas disseram ser os criadores), fez tanto sucesso na época que todo mundo começou, além de dançar junto, a cantar.
Foi então que uns moleques no bairro do Estácio criaram a primeira escola de samba do Brasil, a “Deixa Falar”, que não passava de um bloco um pouco mais organizado, com cuíca e surdo, instrumentos ausentes em outras “agremiações”. Em 1932, porém, sob tutela do governo, a Deixa Falar já estava participando de desfiles oficiais. O samba-enredo da escola, “A Primavera e a Revolução de Outubro”, foi uma homenagem ao golpe de 1930, quando Getúlio tomou o poder à força.
O que temos hoje é um eco direto desses tempos. O desfile na Sapucaí, no Rio de Janeiro; no Anhembi, em São Paulo; e em Curitiba, organizadinhos, cronometrados, com notas, juízes, e, pior, financiamento estatal, passou da hora de acabar.
O carnaval brasileiro tem experimentado uma renascença de blocos pelas capitais. Em São Paulo faz sucesso o do Baixo Augusta e o Bloco Soviético, entre outros. No Rio de Janeiro, há blocos que levam centenas de milhares de pessoas às ruas. Mesmo em Curitiba, que nunca foi muito afeita à festa da carne, há boas opções de diversão surgindo. Tudo o que não precisamos é ver nosso dinheiro sendo involuntariamente, via impostos, voltado para algo que nasceu com inspiração fascista.
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