André Abujamra declamando “O Infinito de Pé”: show interativo é marca do artista| Foto: Bruno Stock

"O tempo fica parado/ é nóis que avua nele", canta André Abujamra em "Natureza". Depois da série que começou em meados do ano passado, o show Síntese da Essência despediu-se de Curitiba com três espetáculos realizados no último final de semana, no Teatro da Caixa.

CARREGANDO :)

Como se promovido, já que passou pelo Teatro Universitário de Curitiba, depois pelo Terreirão do Mundaréu antes de chegar ao espaço da Rua Conselheiro Laurindo, a apresentação ganhou ares de déjà vu para quem já o presenciou antes, já que o repertório foi basicamente o mesmo dos shows antigos, e a interatividade – marca essencial de Abu – foram essencialmente idênticas às das outras apresentações. Mas, levando-se em conta a pluralidade artística do paulistano, isso não chega a ser um incômodo, já que cada show ganha elementos diversos graças à comunicação fácil e bem-humorada que estabelece com o público.

Pois, às 19 horas do último domingo, enquanto a chuva desabava sobre a cidade, André Abujamra surgiu ao telefone. Brilhando em seu terno verde-água, que escondia em uma camiseta preta uma reprodução de "Guernica", de Picasso, Abujamra começou seu "não-show". "Sim, vou subir no palco agora. É, o curitibano dirige mal mesmo", brincou ao celular. André Abujamra mora em Curitiba há cerca de três anos.

Publicidade

Ao lado de Melina Mulazani (voz e percussão), do virtuose Ary Giordani (acordeão) e Flávio Lira (contrabaixo), – o violonista João Egashira não compareceu por motivos pessoais –, o espetáculo funciona com um resumo sintético e poético de sua carreira. Há lugar para rock, como em "Alma Não Tem Cor", conhecida na regravação de Zeca Baleiro – "essa música é minha, viu?", bradou Abujamra; citações à capella, como em "O Infinito de Pé", música que vira um poema impressionista e divaga sobre o símbolo matemático do infinito; e world music, surgida quando toca um instrumento africano e canta uma canção que estará presente em Mafaro, seu próximo disco, previsto para abril. Músicas de Os Mulheres Negras e Karnak também fizeram parte do show – "Juvenar" encerrou o espetáculo com um digno e afinado coro.

Mas a cereja do bolo é o improviso casual-interativo que surge em suas apresentações. Na verdade, o fator déjà vu é minimizado em partes quando do primeiro contato do músico com alguém da plateia. É como se um novo roteiro fosse criado a cada show: já se sabe o quê, mas não se sabe como. No último domingo, foi Daniel o escolhido. Antes de cada música, o curitibano sentado na fila B era incitado a participar, ainda que contrariado. "Você não me conhece e veio me ver mesmo assim"?, indagou Abujamra. "Bata palmas, também", pedia. Sorte – ou azar – também teve uma professora de História da Arte, que não sabia o significado de "Pangeia", título de uma de suas músicas. Houve ainda um momento impagável em que uma professora de Inglês tentou explicar o significado da palavra onomatopeia na língua em que ensina.

André Abujamra agora se prepara para lançar seu novo disco e Síntese da Essência deve sair de cena. Mas, caso ele ressurja com o seu workshop-show, fica a dica: vá preparado para fazer parte do espetáculo. GGG