Os cineastas Beto Carminatti e Pedro Merege ficaram acordados até tarde na terça-feira passada. Eles estavam reunidos com Gil Baroni e Monica Rischbieter para discutir os primeiros passos do longa-metragem Mystérios. O projeto do filme venceu o Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo no começo de abril e receberá R$1 milhão do governo durante o próximo ano.
O que manteve o grupo acordado foram as possibilidades cinematográficas da literatura de Valêncio Xavier, que servirá de base para o longa. No final de 2005, Carminatti e Merege haviam lançado O Mistério da Japonesa, a primeira transposição dos escritos do autor paulista, radicado há décadas em Curitiba, para o cinema.
A idéia, agora, é dar um passo adiante. O longa, que será produzido pela produtora WG7 de Baroni e Rischbieter, reunirá quatro episódios da uma série de treze mistérios de Xavier, publicada em 1998 em O Mez da Grippe. Os contos já foram escolhidos: "Mistério da Porta Aberta", "Mistério no Trem Fantasma", "Mistério Números", "Mistério Sapho: O Amor entre as Mulheres". "Vamos fazer quatro mistérios, mas eles não funcionarão como quatro curtas, mas serão episódios com elementos que fazem uma costura, uma passagem", explica Carminatti.
O diretor se diz fascinado por toda a obra de Xavier. Provocado para explicar a obsessão, não soube elencar os motivos. "Envolve tudo", responde simplesmente. "O Valêncio é um escritor genial para qualquer lugar do mundo, não só no Brasil. A maneira como ele escreve, como ele aborda os temas, essa destreza de linguagem, a topologia criada, o universo dos personagens, esse movimento interno de forma e conteúdo, tudo me fascina na literatura dele", comenta Carminatti. "A literatura dele dá a impressão de que o tempo todo você está vendo os compartimentos da alma de alguém se abrindo."
Merege relembra que tanto ele quanto Carminatti conheceram a obra de Xavier quando ele dirigia a Cinemateca de Curitiba, no final dos anos 70 e início dos anos 80. A proximidade da dupla com a cinefilia do escritor e a produção literária que dela derivava permitiu a proximidade. "A gente convivia no cinema, conhece as referências dele, que vão da Nouvelle Vague ao filme B americano. Podemos identificar essas referências na obra dele", comenta.
Carminatti explica que, nesse primeiro momento, está aberto a sugestões de gente que define como "palpiteiros de estimação". "Estaremos abrindo o processo para a conversações com pessoas próximas como Fernando Severo, Carlos Dala Stella e Cristiane Lemos, entre outros", afirma o cineasta.
No elenco, já está acertada participação de Ary Fontoura, Maureen Miranda, Rodrigo Ferrarini, Adriano Peterman. Carminatti e Baroni já dirigiram Fontoura no curta-metragem Terra Incógnita, lançado no início desse ano. A equipe está estudando a possibilidade de participação das atrizes globais Camila Pitanga e Letícia Sabatella. A direção de fotografia ficará por conta de Alziro Barbosa, cujo trabalho em O Mistério da Japonesa lhe rendeu, há duas semanas, o prêmio de melhor fotografia de curta-metragem da Associação Brasileira de Cinematografia.
A intenção do produtor Gil Baroni e de Monica Rischbieter é rodar o filme inteiramente em Curitiba, para poupar despesas de deslocamento de equipe. "Estamos com dois grandes diretores e vamos fazer o melhor possível com esse dinheiro que o filme já tem", afirma Gil Baroni. Ele explica, ainda, que uma das vantagens desse tipo de premiação é que o dinheiro não precisa ser captado, o que facilita negociações de produção e de distribuição.
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