O belga radicado na Argentina Julio Cortázar sacou uma metáfora esportiva para explicar o efeito do conto sobre o leitor. Se o romance vence por pontos, o conto o faz com um nocaute. É talvez a frase mais famosa ligada ao gênero. Tão difundida que você esquece de ouvi-la de verdade, de reagir a ela.
"A definição de Cortázar é divertida, mas não deixa de ser um jogo de palavras. Se formos desmontá-la, mesmo que de brincadeira, como agora, nada nos impedirá de afirmar que alguém pode ser nocauteado no último assalto de uma longa luta de boxe", diz Luís Henrique Pellanda, autor de O Macaco Ornamental (Bertrand Brasil). Fato. Dentro dessa lógica, também existem romances que nocauteiam e contos que vencem por pontos...
Se os islâmicos rezam voltados para Meca, o contista deveriam fazer genuflexões para Taganrog (cidade em que nasceu o russo Anton Chekhov), ou ainda para Fécamp (a do francês Guy de Maupassant). Se o escritor for brasileiro, poderia orar em direção ao Rio de Janeiro de Machado de Assis, ou por que não? à Curitiba de Dalton Trevisan.
Chekhov dizia que conto era uma história da qual se tirou o começo e o fim. O manauara Milton Hatoum (A Cidade Ilhada) diz algo parecido quando afirma que ele "deve começar pelo meio e deixar a cena final ou o desfecho para a imaginação do leitor. Os desdobramentos da intriga e das personagens, tão necessários ao romance, devem estar latentes no conto".
Mais da metade dos escritores ouvidos pela reportagem devolveram respostas que foram arrematadas com perguntas na linha de "É isso?" e "Faz sentido?". Pellanda defende um conhecimento instintivo. "Quando lemos um texto literário, intimamente sabemos dizer se aquilo se trata ou não de um conto", diz.
Conto é uma ferramenta imprescindível no trabalho de Flávio Moreira da Costa, organizador de várias antologias importantes o homem que conseguiu colocar o gênero nas listas de mais vendidos com livros que compilavam histórias usando temas diversos, do humor ao sexo. No entanto, ele admite não gostar de definições.
Respondendo de uma lan house em Paris, onde faz pesquisas para seus próximos trabalhos, Moreira da Costa lembra que, certa vez, um leitor o pressionou pedindo uma definição de conto durante uma palestra em Curitiba. "Acabei concluindo que conto é uma travessia que traz em si mesma na ação, no personagem, no leitor uma transformação antes do final."
Outros preferem um direto de direita (para voltar à metáfora de Cortázar). Veja Raimundo Carrero, autor de Minha Alma É Irmã de Deus: "Conto é como riscar fósforo: mal acende, já apagou".
Há ainda quem coloque o conto próximo da poesia pela precisão que exige. Dizem que escrever narrativas curtas seria mais complicado do que produzir um romance, mas isso é relativo demais. Sérgio Rodrigues, que acaba de publicar a coletânea Sobrescritos (Arquipélago), admite ter mais facilidade com o conto e penar para escrever romances.
Curiosos são os casos de autores monogâmicos, fiéis a um único formato. Dalton Trevisan não larga o conto por nada. Jorge Luis Borges nunca escreveu histórias longas. Chekhov suou para fazer romances e chegou a escrever dois ou três, mas seu negócio era o conto.
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