Alex Barg, de contra-regra a parceiro de cena de Adriana Birolli| Foto: Fernando Torquatto/Divulgação

"Ninguém precisa boicotar ninguém"

Dizer o que lhe vinha à cabeça, sem muito filtro, não era privilégio da Isabel de Viver a Vida. Adriana Birolli, assim como a personagem que lhe deu fama nacional, não tem papas na língua. Ao contrário das celebridades que adotam um inquebrantável sorriso cordato e respostas amenas para toda e qualquer ocasião, a curitibana se mantém temperamental e espontânea.

De volta a Curitiba para apresentar o espetáculo Manual Prático da Mulher Desesperada, a atriz encontrou a reportagem da Gazeta do Povo ontem, durante o café-da-manhã em um hotel. Uma hora de conversa foi o suficiente para ouvi-la disparar frases fortes, daquelas que não têm tanto peso na fala mas, se publicadas, podem gerar abalos.

Foi o que aconteceu, não faz muito tempo. Os produtores da peça alertaram a jovem atriz de que estaria se armando um boicote à sua apresentação em Curitiba. Tudo porque Adriana deu uma entrevista à revista Contigo, ainda no início da novela. Disparou que tinha nascido na cidade errada porque prefere o calor carioca ao frio curitibano. A frase foi parar na página de citações da Veja, ganhando uma força que a atriz não previa.

"Isso tomou uma proporção enorme. Para quem não me conhece, fiquei como a garota que não gosta de Curitiba. E quem me conhece, mas não gosta de mim, aproveitou para me linchar", diz.

Ela se dói principalmente por coisas que andou lendo na internet. No twitter, um ator da cidade a chamou de "vaca". A relação da moça com a cena teatral daqui nunca foi das melhores. "É gente que nunca fez nada por mim. Nunca foi ver minha peça. Nunca me chamou para nada."

Ataque de estrelismo

Por mais que reconheça não ter noção ainda da repercussão envolvida no mundo de celebridades em que se meteu, algo Adriana já percebeu: "Não tem como ser unânime." E ela começa a se dar conta de que, com o rosto exposto na mais desejada das vitrines artísticas, a Rede Globo, qualquer coisa que diga está sujeita a ser mal-interpretada e a causar barulho. "Tudo vira um ataque de estrelismo", reclama. Sem conter a espontaneidade, ainda. (LR)

CARREGANDO :)

A primeira vez que se pôs na pele de Alice, Adriana Birolli tinha apenas 19 anos. Quase uma década a menos do que a personagem da peça escrita pela norte-americana Dorothy Parker. A atriz vivia um namoro firme e longo. Nem sonhava em sentir as mesmas aflições da moça solitária que deseja ardentemente um par para lhe fazer companhia no sábado à noite, como é a protagonista de Manual Prático da Mulher Desesperada.

Isso foi em 2006. Agora, mal se despediu da novela Viver a Vida, da Rede Globo, Adriana volta à cidade para apresentar a mesma peça no Teatro Positivo, hoje, às 21 horas (confira o serviço completo). Nesses últimos quatro anos, po­­rém, muita coisa mudou.

Publicidade

Para começar, o namoro chegou ao fim. E a atriz, agora com 23 anos, conhece melhor as agruras que representa na comédia. "O desespero da personagem estava muito fora da minha realidade", lembra. "Hoje em dia, por mais que eu esteja feliz da vida sozinha, vivo um pouco mais a realidade dela."

A interpretação também se transformou. Antes era "rígida", ganhou leveza. Afinal, foram muitas sessões de ensaios a cada vez que a peça voltava ao cartaz, tempo suficiente para amadurecer e reconstruir a personagem.

A certa altura, a atriz descartou os artifícios corporais e faciais que tinha criado para parecer mais ve­­lha. O tempo tinha passado e os tre­­jeitos já soavam exagerados. "Eu não tenho 28 ainda, mas estou bem mais próxima disso. Fui reapresentar a peça no Rio e percebi que estava fazendo muita careta", diz.

Sem contar que, depois do su­­cesso nacional como a personagem Isabel, tudo ganhou outra proporção na vida de Adriana. Princi­­palmente o público. Por mais bem-sucedida que fosse a carreira do espetáculo antes, com sete temporadas em cartaz em Curitiba e um prêmio Gralha Azul de melhor intérprete recebido ao completar 20 anos, nada não se compara ao que a espera esta noite.

O Positivoão comporta uma plateia 20 vezes mais numerosa do que a do bar Era Só o Que Faltava, palco preferencial da peça ao longo dos anos. "Foi um convite", conta a atriz, admitindo que não teria sozinha a ideia de encarar os 2,4 mil lugares. Mas ela aproveitou a chance para celebrar a boa fase na carreira e entrar numa turnê que seguirá para Maringá, Ponta Grossa, Lon­­drina, Toledo, Porto Alegre e adiante.

Publicidade

A confiança de que o espetáculo vai funcionar bem mesmo num espaço tão grande vem das características da própria montagem. "É um show de humor", frisa o diretor Ruiz Bellenda. Muito mais cômico do que se poderia supor de Dorothy Parker. Mas ele está convencido de que a escritora aprovaria as adaptações feitas de seu texto de 1920. "Dorothy nunca deu muito certo em teatro. A gente conseguiu fazer sucesso com ela", diz, sem modéstia.

Quem mais costuma se identificar com o espetáculo é o público jovem. Isso ficou nítido quando estrearam no Rio de Janeiro diante de uma plateia quase toda de terceira idade. O resultado não foi dos melhores, por falta de identificação. "Aqui em Curitiba, vinham grupos de 30 mulheres ver", compara Bellenda. O único diretor com quem Adriana já trabalhou no teatro, numa parceria que vem desde os 13 anos dela e se consolidou recentemente, quando ele se tornou empresário da atriz.

Adriana, que assinou contrato de três anos com a Rede Globo, não está só na peça. Ela contracena com o ator Alex Barg. Ao estilo Eve Harrington no filme A Malvada (menos pela carga de traição), o rapaz começou como contra-regra e ganhou sua vez quando o ator titular (Cadu Sche­­f­­fer) teve de ser substituído. Assumiu dois pa­­péis: o manicure Ce­­linho e o grosseirão da balada Everton.

"Como estou começando, ainda tenho certa timidez. Mas a Adriana consegue me deixar à vontade. Ela tem delicadeza e refinamento em cena", elogia o parceiro.

Serviço

Publicidade

Manual Prático da Mulher Desesperada. Teatro Positivo (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3317-3283. Texto de Dorothy Parker. Direção de Ruiz Bellenda. Com Adriana Birolli e Alex Barg. Dia 27 às 21 horas. R$ 64 e R$ 24.