Todas as marcas típicas de Paul Auster estão no livro Invisível. Com uma peculiaridade: talvez pela idade (mais de 60), o autor de Nova Jersey tem se dedicado a personagens mais velhos que olham para trás a fim de resolver pendências ou fazer as pazes com seus fantasmas.
Foi assim no romance anterior, Homem no Escuro, e é assim agora, com Adam Walker, um poeta no fim da vida que teve uma juventude conturbada, em parte, pela relação com um professor de nome Rudolf Born.
Esse processo de revisão não desemboca em uma epifania nem parece haver pacificação nenhuma. O motor da ficção de Auster continua sendo uma espécie de sensação labiríntica em que os mal-entendidos não se resolvem e, sempre que se tenta mexer neles, as consequências são confusas.
Coisas ruins acontecem e elas não têm explicação. O acaso ainda fascina Auster, que parece dizer que ninguém está livre de ser assaltado na rua. Porém, não importa os enredos que elabore, Auster está sempre falando de literatura e dos jogos que ela permite.
Dividido em quatro tomos, a narrativa começa em 1967, em Nova York, quando Walker conhece Born e a garota dele, Margot. Aspirante a poeta sem dinheiro para se sustentar, ainda jovem e ingênuo, Walker é envolvido pela conversa e pela personalidade megalomaníaca de Born. Este promete, do nada, ajudar o jovem dando a ele um emprego. A ideia é publicar uma revista literária com parte do dinheiro que recebeu de herança.
O jovem se anima com a ideia e passa a desenvolver um projeto. Se anima também a flertar com Margot. Os dois dormem juntos e esse será um dos menores problemas de Walker. Numa noite, caminhando na rua, ele e Born são abordados por um assaltante inexperiente. Born revida e fere o rapaz com o canivete que carregava consigo. Walker entra em pânico e sai para buscar ajuda da polícia.
Mais tarde, o criminoso aparece morto com mais de 12 golpes. Born nega o assassinato, mas Walker não duvida que ele seja o responsável.
Nas três partes seguintes, quem assume a narração é Jim, amigo de Walker que se tornou um escritor importante. Ele recebe um pacote do poeta com a primeira parte de um livro autobiográfico em que os episódios de 1967 são revistos pelo autor. Ele espera que o amigo leia as páginas e decida o que fazer com elas.
De modo pontual, a fala de Jim dá lugar aos textos escritos por Walker, já sofrendo de leucemia, intitulados com as estações do ano. O amigo famoso se compadece do ex-colega, se interessa pela história e aceita encontrá-lo para uma conversa. Deste ponto em diante, não é difícil supor que, sendo uma obra de Auster, se trata de uma ficção dentro de outra. As pistas estão lá: Jim é escritor, Walker é poeta, o texto de um aparece na narrativa do outro.
Assim Invísivel é um tanto previsível. Mas a história que começa ingênua tanto quanto Adam Walker em 1967 tem bons momentos e lida bem com um tema difícil, o incesto entre irmãos (ou o desejo entre irmãos). De resto, é Paul Auster na sua zona de conforto. GGG
Serviço
Invisível, de Paul Auster. Companhia das Letras, 280 págs., R$ 47,50.
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