O público já não sobe mais a quase um metro do chão, alucinado com as impressionantes batidas dos tambores e com a marcante presença de palco de Chico Science. Mas, ainda assim, o grupo pernambucano Nação Zumbi continua fazendo um dos melhores shows do rock brasileiro, como pode ser comprovado no recém-lançado Propagando (Trama; R$ 34,90, em média).

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O CD duplo é o primeiro ao vivo da banda, destacando uma apresentação realizada em São Paulo, no final de 2003, e lançada em DVD em 2004, para celebrar dez anos de carreira no mercado. O show tem como base o CD Nação Zumbi (2002), que marcou uma nova fase da banda formada por Jorge du Peixe, Lúcio Maia, Gilmar Bola Oito, Pupillo, Toca Ogam e Nino Brócoli (antes conhecido como Dengue). Esse disco foi o primeiro dos pernambucanos sem a influência direta do líder Chico Science, morto em 1997, aos 30 anos, em uma acidente automobilístico.

O novo caminho escolhido pelo grupo ainda passa pelo manguebeat – movimento do qual são fundadores ao lado do mundo livre s/a –, mas incorpora também o groove e o psicodélico. O resultado é um som mais "calmo", viajante, mas não menos vibrante do que nos tempos de Chico. O trabalho continua sendo aprimorado, como pode ser conferido no CD Futura, lançado em 2005.

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Para a gravação do show em São Paulo, a banda contou com uma gigante estrutura técnica, a maior que teve disponível em toda sua trajetória na música. "Tudo foi direcionado só para a gente, nunca tivemos isso na vida, nem na época da Sony", lembrava o baixista Nino Brocóli quando do lançamento do DVD, comparando com a fase na grande gravadora que lançou os primeiros discos do grupo – Da Lama ao Caos (1994), Afrociberdelia (1996) e o duplo CSNZ (1997, que homenageia Science).

Os integrantes da Nação Zumbi aproveitam bem a oportunidade de dispor de uma ótima qualidade de som e soltam um petardo atrás do outro. No repertórtio, predominam as canções do disco Nação Zumbi – sete ao todo, com destaque para os sucessos "Meu Maracatu Pesa uma Tonelada" e "Blunt of Judah" –, além de três faixas de Rádio S.amb.A (2000, YB Music), CD pouco divulgado do grupo, relançado recentemente pela Trama: "Remédios", "Carimbó" e o hit "Quando a Maré Encher", capaz de levantar poeira em qualquer pista.

A banda continua celebrando Chico Science, como lembra Du Peixe em vários momentos do show. Os grandes sucessos do manguebeat não são esquecidos, mas contam com arranjos mais alinhados ao novo som da Nação Zumbi. Dessa forma, "Macô", "Banditismo por uma Questão de Classe", "Manguetown", "Samba de Lado" e "Da Lama ao Caos" – esta numa fusão com "Umbabarauma (Ponta de Lança Africano)", de Jorge Ben Jor – soam um pouco diferentes, mas ainda levantam a platéia. Os pernambucanos também disparam uma interessante versão de "Purple Haze", de Jimi Hendrix.

A novidade para 2007 no universo da Nação Zumbi deve ser o lançamento de um CD independente do projeto Maquinado, trabalho-solo de Lúcio Maia. O guitarrista já apresentou algumas de suas músicas em alguns shows próprios este ano. GGGG