Olhar além da óbvia paisagem. Mais do que um guia turístico sofisticado, Alain de Botton convida o leitor a refletir sobre o que envolve o ato de viajar. Começa pelo desejo de partir e tudo o que a ação implica: sair da zona de conforto, testar novos ambientes e culturas, mas sem conseguir livrar-se do próprio espírito, seus questionamentos, angústias e dúvidas. Tudo vai na bagagem. Para Botton, mudar o cenário não interfere na essência do indivíduo, mas o deslocamento é necessário. É o que pode exigir do viajante um novo posicionamento diante da própria existência. Para isso, Botton usa referências de grandes exploradores, filósofos, artistas e pensadores, de Van Gogh a John Raskin. E a cada nova etapa das suas viagens, procura observar com os olhos de seus guias tão especiais.
E é assim, citando seus autores favoritos, que Botton vai discorrendo em A Arte de Viajar sobre as diferentes motivações que levam o indivíduo a sair de seu casulo e aventurar-se em novas terras. Da simples observação sobre meios de transporte, como navios e aviões, à reação ou apatia dos frequentadores de um café ou posto de gasolina na beira da estrada.
A viagem de Botton está no sutil. Na tradução de uma obra de arte, resultado do primeiro filtro do artista, é reinterpretada diversas vezes por quem a observa e admira. Na ânsia de capturarmos a beleza do cenário no frenesi da máquina fotográfica. Aqui, ele ensina uma fórmula eficiente de calar na memória as sensações vividas em uma viagem: descrever tudo em palavras. Para Botton, e seus guias sofisticados, reproduzir o cenário em texto é a melhor maneira de torná-lo inesquecível.
O guia de Botton também ensina a voltar para casa. Mesmo que o retorno seja decepcionante para o viajante, ao constatar nenhuma mudança do ponto de partida, ele pode ser renovador para a alma. Isso se o leitor aprender a observar detalhes cotidianos com interesse e curiosidade. Isso pode fazer do caminho de casa para o trabalho uma nova aventura.