Benguelê tem trilha de João Bosco para homenagear tradições afro-brasileiras| Foto: Divulgação

Serviço

Grupo Corpo

Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/nº), (41) 3304-7900. Dia 15, às 21 horas, e 16, às 19 horas. Ingressos a R$ 90 e R$ 45 (meia-entrada). Descontos de 50% para titulares do Cartão Petrobras e Clube do Assinante Gazeta do Povo na compra de até dois ingressos. Classificação indicativa: livre.

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Figurino de Sem Mim foi composto sobre malhas e simula tatuagens
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Curitiba conhecerá nos próximos sábado e domingo mais uma coreografia do mineiro Grupo Corpo – como sempre, fruto da junção de várias referências, que poderiam parecer díspares em outro lugar. Sem Mim (2011) é baseada em sete canções em galego que datam do século 13, de autoria de Martín Codax. O Ciclo do Mar de Vigo dá voz a mulheres que esperam por seus amados na cidade litorânea na Galícia espanhola que dá nome ao texto, numa legítima "canção de amigo", gênero que se desenvolvia à época.

Resgatadas com partitura e tudo pelo músico e escritor José Miguel Wisnik, que sugeriu a adaptação ao corpo de baile mineiro, as canções foram remusicadas e alongadas, passando de 15 para quase 50 minutos, em parceria com o músico Carlos Núñez, que é galês.

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VÍDEO: Assista a trechos das coreografias Sem Mim e Benguelê

"Achei legal. Mas quando o Wisnik me apresentou a trilha pronta eu liguei e disse: ‘você é um sacana", relembra Rodrigo Pederneiras, coreógrafo do Corpo. "Era tão magnífica que não precisava de mais nada. Ele me criou um grande problema", brinca.

Mas o artista acrescentou, sim, uma coreografia que tenta remeter ao mar, sem ser óbvia, neste 35.º trabalho do grupo criado em 1975.

"Achei legal a ideia de o mar ser o elemento que conduz, que leva e traz, tira e traz felicidade. Seria óbvio se eu começasse a utilizar muito os braços. Então dei uma sinuca neles e fiz o movimento das marés mais espacial", revela o coreógrafo, ao ser questionado sobre que aspectos do trabalho foram inéditos para o grupo.

O resultado são movimentos de tronco, pescoço e pernas sinuosos, que surpreendem ao adotar um quê folclórico.

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Ao lado dos saltos curtos que remetem a danças populares da região da Galícia – povoada por celtas, daí a gaita de foles – o tratamento das canções para a trilha foi o da MPB. O uso de instrumentos atuais populariza o tema, o que é somado a participações vocais de nomes como Milton Nascimento, Chico Buarque e Mônica Salmaso.

A separação entre amantes sugerida pelas letras é transposta para a dança, em que homens e mulheres têm posições bem distintas no palco. O desejo também transparece.

No único duo, ainda que romântico, fica no ar a consumação ou não do amor. "A ideia de todas as letras era de mulheres se lamentando à beira do mar, que levou embora o amor, ou ele foi embora. Elas têm a esperança de que o mar traga de volta a felicidade", resume Pederneiras.

Os figurinos foram desenhados por Freusa Zechmeister, que utiliza malhas semelhantes à segunda pele, sempre na cor da cútis do bailarino, sobre as quais foram aplicadas composições que simulam tatuagens.

No cenário de Paulo Pederneiras – diretor artístico e fundador do grupo –, surge uma tela que isola o casal durante o pas de deux.

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João Bosco

O nome por trás da segunda coreografia que o Corpo traz ao Guairão no próximo fim de semana é João Bosco. O compositor mineiro é responsável pela trilha de Benguelê (1998), que tem forte influência popular, assim como Sem Mim, mas num contexto bastante diferente. Aqui, o corpo e a música falam da influência africana no Brasil, passando por uma viagem de volta ao continente-irmão e um retorno que abarca nomes brasileiros como Pixinguinha.

Desde 1992, as coreografias do Grupo Corpo têm trilhas especialmente compostas, como essas. O coletivo de dança já trabalhou com nomes diversos, como Arnaldo Antunes, Lenine e Tom Zé. O grupo não vinha a Curitiba há cinco anos.