Obras da série Caverna mostram marcas do ambiente prisional; Juliana é a única brasileira no pavilhão latino-americano| Foto: Divulgação

A fala rápida e a voz um tanto trêmula denotava a ansiedade da artista e fotógrafa Juliana Stein em embarcar para a Itália, onde participa, a partir de hoje, da 55.ª Bienal de Veneza, com trabalhos expostos no Pavilhão da América Latina. O convite foi feito em setembro do ano passado pelo curador alemão radicado no Brasil, Alfons Hug, responsável pelo pavilhão e por trabalhos, como a última edição da Bienal de Curitiba.

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"Quando o Alfons me ligou, não acreditei, né? Comemorei muito", conta Juliana, que visitou a bienal italiana quando foi estudar história da arte em Florença, onde viveu entre 1996 e 1999. "É chocante. Artistas de todo o mundo participam, abre muitas possibilidades. Eu nunca achei que um dia eu estaria com um trabalho meu lá."

Por pouco, aliás, Juliana não ficou de fora: ela penou para conseguir o patrocínio de 6 mil euros para garantir a sua participação, pois teve problemas com a captação de recursos. Resolveu o problema em pouco mais de um mês antes da viagem. "Encontrei pessoas muito legais que acabaram me ajudando e abriram o caminho", diz a artista, que salienta que a dificuldade em angariar dinheiro para projetos na área de artes visuais não é de hoje. "É sempre difícil achar patrocinador, pois a empresa quer que o trabalho tenha a cara da instituição, e isso é impossível no trabalho com arte, que nem sempre é confortável."

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Em Veneza, Juliana apresentará a série Caverna, com seis fotografias impressas na extensão de um metro, que retratam as marcas deixadas dentro dos ambientes prisionais. "Estive em vários presídios, considero o tema uma questão social muito importante, e uma condição tortuosa." As imagens foram realizadas com uma câmera analógica de médio formato, equipamento pouco usual. "Todo mundo que me vê trabalhando com ela acha que eu sou uma louca. Não tem filme fotográfico em Curitiba, tenho sempre que comprar em São Paulo e revelar lá. E nem sempre é fácil conseguir." A artista tampouco se define como fotógrafa profissional. "Não sou boa nisso (risos). Vejo alguns amigos fotógrafos que são específicos, entendem tudo tecnicamente. Eu, não."

Carreira

Gaúcha de Passo Fundo, a artista de 43 anos, que se considera curitibana (mora aqui desde os 12 anos) e já expôs na China, França, Espanha e Itália, além de participar de eventos como a Bienal de São Paulo, nunca achou que um dia trabalharia com artes. "Não tinha colocado isso para mim." Formada em psicologia, decidiu ir para a Itália estudar e, então, começou a se envolver com artes plásticas e fotografia. Mesmo com o trabalho reconhecido, tenta não colocar muita expectativa em cima dos projetos. "Se as coisas acontecem, excelente. Caso não, continuo. Nosso trabalho é como um labirinto."