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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Um dos mais talentosos comediantes surgidos nos últimos anos no país, Marcelo Médici diz:- Não sou humorista. Difícil convencê-lo do contrário. Você argumenta que a peça "Cada um com seus pobrema" já completou 300 apresentações, levou mais de 80 mil espectadores ao teatro e lhe rendeu o prêmio Qualidade Brasil 2006 como melhor ator de comédia, e ele responde:

- Não me acho engraçado.

O interlocutor sustenta que, como o desengonçado gago Fladson de "Belíssima", ele conquistou o mesmo prêmio, só que de ator-revelação em TV, e Médici dá de ombros.

- A comédia não é reconhecida. Parece que você é o bufão, o galhofeiro, o tio engraçado que conta piada no churrasco.

O repórter lista atores que já estiveram em seu espetáculo - de Malu Mader a Eva Wilma; de Claudia Abreu a Diogo Vilela, passando por Marcello Antony, que viu oito vezes e comemorou aniversário na peça - mas ele continua irredutível.

- Olha o que tem de vedete e de comediante no Retiro dos Artistas. Os que fazem as coisas mais sérias estão bem de grana, parecem que são mais respeitados. Acho que é por isso que eu tenho medo de ser chamado de comediante.

Receoso ou não, ele voltou semana passada ao Rio com sua comédia. Como sempre, casa cheia. "Cada um com seus pobrema" estreou em 2004, na capital paulista. A previsão era que o monólogo ficasse no máximo dois meses em cartaz. Já está há três anos, sem data para terminar. Quando encerrar a atual temporada carioca, em fevereiro, percorre o país e retorna a São Paulo.

Após a peça, Médici emenda dois projetos paralelos. Vai atuar na remontagem de "O mistério de Irma Vap" e fazer nova parceria com Ricardo Rathsam, diretor de "Cada um com seus pobrema". Em "Irma Vap", que será de novo dirigida por Marília Pêra e estréia em setembro de 2008, ele e Cássio Scapin se revezam nos 16 personagens que foram vividos por Marco Nanini e Ney Latorraca.

- A advogada Andréa Francês foi atrás dos direitos e perguntou se eu faria. Essa peça me persegue. Todo mundo falava para mim: "Já pensou a gente fazendo 'Irma Vap'?" - diz. - É uma aula de comédia.

Paralelamente, vai estar em "Cada um com seus pobrema 2". Mas, ao contrário do original, com seus nove personagens, o novo espetáculo gira em torno de um ator de teatro que vai para a televisão - um pouco o que aconteceu com ele, que está na novela "Sete pecados", como o mordomo Antero.

- Desde pequeno minha referência mais forte era a TV. O teatro é minha casa, mas queria ser ator para atuar na TV.

Se na peça ele é o centro das atenções, na novela das sete faz um pequeno papel.

- Realmente posso oferecer mais do que estou fazendo, mas é minha segunda novela apenas, não dá para ser umbilical. É uma engrenagem muito grande, não dá para ficar batendo pezinho e dizendo: "Quero que meu papel aumente." Não fico chateado, tenho contrato com a Globo até 2010.

O caminho até a TV foi longo e tortuoso. Ele só fez sua primeira novela aos 33 anos.

- Fiquei dez anos para conseguir fazer um teste para entrar na oficina da Globo. E na verdade entrei na emissora porque o Silvio de Abreu me viu no Prêmio Multishow.

Ele foi convidado para fazer "As filhas da mãe", mas à época era o Zoinho de "A praça é nossa", no SBT. Acabou desistindo do humorístico, a exemplo do que aconteceu quando fazia parte do "Terça insana". Tinha pânico de ficar marcado pelos papéis.

- No "Terça insana", fazia dois personagens de muito sucesso, o corintiano Sanderson e o Mico-Leão-Dourado. Só pediam os dois. Comecei a me sentir refém.

Hoje com 35 anos, o paulista Marcelo Médici começou no teatro em 1988. Trabalhou com a companhia Os Satyros. Aos 16 anos, entrou para o CPT (Centro de Pesquisa Teatral) de Antunes Filho. Ficou um ano.

- Lá, aprendi muito a disciplina do teatro. Se você faltasse, tinha que levar o atestado de óbito, de preferência o seu - brinca.

Depois, formou-se no teatro-escola Célia Helena e fez cursos com Elias Andreato e Juliana Carneiro da Cunha. Nunca fez cinema, mas recebeu há pouco dois roteiros de comédia. Não se animou. Ele teve uma incursão pelo drama na peça "Horário de visita".

- Estou de bem com a comédia, mas quero fazer outras coisas. Você faz uma peça em que pega uma bacia, uma vela e fica recitando textos esquisitos e vão falar: "Nossa, que trabalho de ator!". Acho, por exemplo, que o teatro do Zé Celso (Martinez Corrêa) foi incrível naquela época. Ele voltou e está igual. Há, sim, preconceito com a comédia. Já pensei até em fazer terapia. Será que as pessoas me dão alguma credibilidade?

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