Marcelo Rubens Paiva é fascinado, ao grau da morbidez, por uma cena comum em todas as separações. É aquele momento no qual um dos amantes diz para o outro: 'Precisamos conversar'.
Para ele, "o mundo será outro a partir daquele segundo. E, atordoados, teremos de quebrar pactos. É um sofrimento opcional. Decide-se romper, acabar com o amor. É preciso coragem para acabar."
A descrição desse sentimento é um trecho de A Segunda Vez Que Te Conheci, livro que o escritor lança hoje, em São Paulo, para contar a história do casal Raul e Ariela.
Além de lidar com o rompimento da relação, o jornalista Raul enfrenta um outro trauma: ser demitido de uma revista conceituada. O jeito foi se virar com o que o mar trouxe à praia: agenciamento de prostitutas, função desempenhada com afinco e sucesso a partir de um flat no bairro dos Jardins.
Esse é o enredo da obra, que trata das relações contemporâneas, em especial as que envolvem o sexo pago. "A prostituição parecia extinta com a revolução sexual, mas ela renasceu na sociedade que quer rapidez, papéis claros e, sobretudo, privacidade", diz Paiva.
"O sujeito se envolve com uma garota de programa quando quer ainda aquela mulher submissa, obediente, descartável, sem conflitos", completa.
Ele chegou a essa conclusões após uma pesquisa de campo em esquinas, boates e sites sobre o universo das prostitutas. "Freqüentei pontos de programa bizarros, não tenho preconceitos. Converso, fico amigo. Talvez eu também seja parte desse mundo de gente esquisita e discriminada.
Na avaliação de Paiva, "todos querem estar casados, felizes, querem agregar, mas no mundo cheio de tentações rola a desagregação". E seu Raul também passa por esse dilema. Ele volta a sair com a ex-mulher, mas sem abandonar a rotina de cafetão. "Acredito em segunda chance para tudo: é o ponto de partida do que escrevo", defende o autor. Ele próprio representa um exemplo de reconstrução humana. "Eu me reconstruí, aos 20 anos, como deficiente. E quero dizer para as pessoas que existe uma segunda chance. E, às vezes, é preciso deixar de ser algo para ser uma outra coisa", declara.
Paiva deixa clara sua crença na capacidade de superação por meio das reflexões finais do personagem. "Todo homem tem força dentro de si para renascer diferente", conclui Raul.
E se Trump sobretaxar o Brasil? Entenda os impactos sobre nossa economia
Decretos, deportações e atrito com governo Lula: a primeira semana movimentada de Trump
O Pé-de-Meia e a burla do governo ao orçamento
De presidenciável a aliada de Lula: a situação dos governadores do PSDB em meio à fusão da sigla
Deixe sua opinião