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Marlon Siqueira já tocou em várias bandas locais de reggae | Gel Muzzillo/Divulgação
Marlon Siqueira já tocou em várias bandas locais de reggae| Foto: Gel Muzzillo/Divulgação

Quem nunca encarou uma dona Margarida pela frente? Cheia de certezas, incapaz de relativizar seus pontos de vista, baseados em verdades pífias, e defensora ferrenha de seu direito de não ser contrariada, a personagem, criada na década de 70 pelo dramaturgo Roberto Athayde, está de volta. Retorna à cena na remontagem do importante monólogo Apareceu a Margarida, que estréia amanhã, às 20h30, no Paiol, dentro da Mostra Contemporânea do Festival de Teatro de Curitiba.

Quando veio ao mundo, para ser elevada à constelação dos grandes personagens da dramaturgia nacional pelo brilhante desempenho de uma jovem e inquieta Marília Pêra, Margarida era uma professora sem vergonha de defender os valores pregados pela Ditadura Militar. Dá-lhe tradição, família e propriedade na veia.

Passados mais de 30 anos, o discurso da mestre histriônica e algo patética de Athayde ganha novas leituras, conforme explica o diretor Bruno Garcia. O pernambucano, atualmente no ar como o vilão canastrão Juan de Pé na Jaca, diz que os delírios de poder da professora, interpretada por Marília Medina, ganham outros contornos no século 21.

Se as fardas saíram de cena já na década de 1980, outras formas de repressão tomaram conta do país: os padrões comportamentais, a ditadura estética, a onipresença das grandes corporações, que engolem tudo que vêem pela frente, e a solidão urbana.

"Não mudamos nada no texto nem fizemos quaisquer adaptações, mas sua atualidade não foi comprometida. A comunicação com o público continua muito forte", diz Garcia. A afirmação do ator/diretor faz total sentido se pensarmos que a temporada carioca de Apareceu a Margarida teve de ser estendida devido ao enorme sucesso de público e que a montagem foi uma das primeiras a ter todos os seus ingressos esgotados no FTC 2007.

O segredo do fascínio de Margarida é digno de ampla discussão, mas compreensível. Ao mesmo tempo em que seus valores são para lá de questionáveis, ela seduz. Tanto quando faz o público rir quanto nos momentos nos quais ameaça, abusando de seu pequeno, mas contundente poder. Ela é um pouco mãe e um pouco madrasta, com pitadas de chefe e nuances de bruxa. Portanto, alguém absolutamente crível.

Sobre a experiência de dirigir teatro, Garcia diz que adorou e quer repetir a dose. Não tem projetos na agenda, mas acredita que é uma questão de tempo. Depois de enfrentar dona Margarida, ele está pronto para novos desafios.

Serviço – Apareceu a Margarida. Amanhã, às 20h30, e domingo, às 16h e 20h30. Teatro Paiol (Pça. Guido Viaro, s/n.º – Prado Velho). Ingressos a R$ 26 e R$ 13 (meia).

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