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O diretor Abel Ferrara é um enigma para a maioria das pessoas que assistem aos seus filmes. Trabalhando quase sempre com pouquíssimo dinheiro, o nova-iorquino de 56 anos é obcecado pelo submundo de policiais viciados, freiras estupradas, artistas desajustados e mafiosos vingativos. No entanto, é extraordinário a atração que exerce sobre atores de primeira linha.

Harvey Keitel e Christopher Walken são dois colaboradores recorrentes. Em Maria, a única alternativa adulta e séria da semana às superproduções que tomaram de assalto os cinemas da cidade, o elenco é excepcional, encabeçado por Juliette Binoche (O Paciente Inglês) e o vencedor do Oscar 2007 Forest Whitaker (O Último Rei da Escócia).

A história tem um filme dentro do filme, dirigido pelo canalha Tony Childress (Matthew Modine, outro que trabalha sempre com Ferrara). Childress produz um longa-metragem em que defende a influência que Maria Madalena teria exercido na época de Jesus Cristo. A atriz Marie (Binoche), depois de fazer o papel da discípula do messias, tem a sua vida transformada e decide viver em Jerusalém, deixando para trás uma carreira promissora.

Paralela a essa história, está a do apresentador de tevê Theodore Younger (Whitaker), responsável por um especial veiculado em rede nacional sobre Jesus Cristo e as religiões. Não demora para os caminhos de Younger, Childress e Marie se cruzarem.

Talvez pela herança italiana, Ferrara tenha essa disposição fora do comum de discutir os dogmas católicos e o papel das religiões no mundo de hoje. Maria levanta inúmeras questões pertinentes – mostrando inclusive cenas reais dos conflitos entre palestinos e israelenses –, mas não consegue ir fundo em nenhuma delas.

Whitaker é o nome do filme. A cena em que se arrepende de seus "pecados" e pede ajuda para sua família é o ponto alto do longa-metragem. Binoche não consegue se livrar dos papéis de mulheres sofredoras e, apenas com alguns minutos de projeção, já aparece, no papel de Maria Madalena, chorando e lamentando a morte de Cristo.

Ferrara teve o ápice de sua fama nos anos 90, quando produziu O Rei de Nova York (1990), Vício Frenético (1992) e Olhos de Serpente (1993), este estrelado por Madonna.

No Brasil, um de seus maiores fãs e defensores é o escritor Daniel Galera (Mãos de Cavalo). Em um ensaio sobre o diretor, publicado no Cinemascópio (www.cinemascopio.com.br), o escritor disse: "Ou adora-se, ou abomina-se os filmes do Ferrara. A maioria abomina. (...) Mas há um grupo mais reduzido de pessoas que vê nos filmes do Ferrara um talento fascinante e excêntrico, um estilo de filmar único que os separam não apenas dos filmes B, mas também do cinema ‘de arte’ e do cinemão hollywoodiano. Eu sou um desses espectadores".

Esteja pronto para adorar ou para abominar Maria. GGG

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