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Marina Lima, em foto de divulgação do CD Clímax: para frente é que se olha | Robert Astley Sparke / Divulgação
Marina Lima, em foto de divulgação do CD Clímax: para frente é que se olha| Foto: Robert Astley Sparke / Divulgação

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Cantora tenta se adaptar à "nova voz"

Luigi Poniwass, colunista do Caderno G

Está lá no Aurélio: "clímax" é sinônimo de orgasmo, mas também quer dizer o ponto mais alto, ápice, auge, apogeu – além da parte de um enredo (num filme, livro ou peça) em que os acontecimentos ganham o máximo de tensão, prenunciando o desfecho. O que esperar então de um disco de inéditas – o primeiro em cinco anos –, chamado Clímax, com Marina Lima (linda, frise-se) segurando uma guitarra em pose orgástica na capa? Uma volta por cima, a reafirmação da sua relevância na música pop brasileira, certo? Em outras palavras: um álbum "ereto", poderoso, atrevido, disposto a acabar de uma vez por todas com o nhe-nhe-nhem a respeito da depressão e da perda de voz da cantora e compositora.

Acontece que o Clímax de Marina Lima não é assim. É um álbum melancólico, urbano, permeado de reflexões sobre o envelhecimento, a dor e a solidão. Mas também fala com desenvoltura de sexo casual ("Só Não me Venha Mais com o Amor", parceria com Adriana Calcanhotto) e sobre a vida na capital paulista ("# SP Feelings"). As faixas mais "esperançosas" são "Keep Walkin’", "Call Me" (a única que ela não ajudou a compor) e "Pra Sempre" (letra de Marina sobre música de Samuel Rosa). Esta última também é a mais "ensolarada" – todas as outras têm tons de cinza.

Musicalmente, Clímax tem o mérito de não tentar repetir fórmulas consagradas. É moderno, eletrônico, mas também flerta com o samba (em "A Parte que me Cabe", dueto com Vanessa da Matta, e em "As Ordens do Amor", que não é samba, mas poderia ser), com a música latina e até com o pop radiofônico (em "Pra Sempre"). O que atrapalha mesmo o disco é a voz de Marina – ou a falta dela. Seja de cunho emocional ou fisiológico, o fato é que ela não tem conseguido cantar direito. E o problema fica ainda mais evidente nos duetos – com Vanessa da Matta, Karina Buhr e Samuel Rosa. Marina Lima ainda precisa adaptar a sua música à sua "nova voz" – que, segundo ela, a "traduz perfeitamente". Como fez Robert Plant no premiado disco com Alison Krauss. Por enquanto, ela ainda não conseguiu fazer isso. GG

Serviço:

Clímax. Marina Lima. Libertà Records.

Preço médio: R$ 24,90. Pop

Esqueça aquela Marina que você conhece, a musa do rock brasileiro dos anos 1980, autora de hinos como "Uma Noite e Meia", "Fullgás", "Pra Começar", "À Francesa" e "Eu Te Amo Você", entre tantos outros. Ou melhor, guarde-a na memória e nos registros (físicos ou digitais) da sua obra, que é definitiva na música pop brasileira.

Porque a Marina Lima de 2011 (ou @marinalimax, como aparece no Twitter), que fez 56 anos ontem e divulga o álbum Clímax, o 19.º da sua carreira – e primeiro de inéditas em cinco anos –, olha para a frente. Não que ela renegue ou se envergonhe do passado, afinal boa parte daqueles hits continua no repertório do novo show. Ela apenas se recusa a viver de nostalgia ou a repetir a "fórmula" do sucesso, quebrando a cabeça atrás da nova "Uma Noite e Meia". Para traçar um paralelo com os colegas de geração, entre o caminho escolhido por Lulu Santos e Paralamas do Sucesso e o trilhado por Biquíni Cavadão e Byafra, ela seguiu o primeiro.

Mesmo porque, como Marina disse por telefone à Gazeta do Povo, há tempos ela abriu mão de ser uma popstar. "A música é a minha expressão, mais do que ser entertainer. Eu gosto de compor, de tentar fazer as coisas bem", sublinha. "Também não tenho a preocupação de ser moderna, só gosto muito dos dias de hoje. Para mim não tem essa coisa de ‘no meu tempo’, este é o meu tempo. Eu sou muito curiosa, estou sempre atenta aos sons e aos ruídos do mundo. Não sou cristalizada em uma época."

De fato, no novo álbum (veja resenha no quadro ao lado) ela reforça o flerte com a música eletrônica, aproveita todos os recursos tecnológicos disponíveis e ainda se associa com artistas de diferentes períodos – o seu contemporâneo Edgard Scandurra, representantes da geração 90 como Samuel Rosa e Adriana Calcanhotto, e até as "meninas" Vanessa da Matta e Karina Buhr. Isso além de cantar, tocar diversos instrumentos (guitarra, baixo, violão, órgão, teclado, programação e pads) e de ter composto praticamente todas as faixas (a única exceção é "Call Me", assinada por Tony Hatch).

Clímax também representa uma tentativa de "virar a página" dos desafios enfrentados pela artista nos últimos anos, como a depressão, a perda de voz e, mais recentemente, a morte de um dos irmãos e da mãe, seguida da mudança do Rio para São Paulo. "É um apanhado do que eu venho fazendo nos últimos quatro anos, tanto musicalmente como dos lugares, situações e das pessoas com quem convivi. Foi muito esclarecedor", resume. "Mas o saldo é positivo. Hoje eu tenho uma outra maneira de ver a morte: ela não é essa coisa pesada que todos imaginam. Sinceramente, eu acho que as pessoas se vão porque já estão mais adiantadas." Ou seja, Marina Lima segue à risca o título da quarta faixa do CD: "Keep Walkin’" ("Continue andando", na tradução para o português). E sem prestar atenção no retrovisor.

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