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Will Ferrell sem maquiagam | Reprodução G1
Will Ferrell sem maquiagam| Foto: Reprodução G1

Rio de Janeiro – Enquanto Ziraldo e Maurício de Sousa atraíam as tradicionais filas de Disneylândia, ou seja, longa espera por um autógrafo, a Bienal do Livro do Rio conheceu, no sábado passado, outro campeão de vendas.

O australiano Markus Zusak, autor do best seller A Menina Que Roubava Livros (mais de 180 mil exemplares vendidos), foi seguido, passo a passo, por uma legião de fãs. "Ainda não consegui me acostumar com tamanho assédio", confessava ele, com um autêntico espanto.

Simpático, sorriso sempre aberto, Zusak foi recebido por um grupo de modelos que, vestidos de preto e com guarda-chuva vermelho, reproduzia com exatidão a imagem já clássica da capa de seu livro.

Do estande de sua editora, a Intrínseca, ele rumou para um salão já lotado (diversas pessoas tiveram de se acomodar no chão), onde revelou detalhes de seu processo de criação. "Sempre acreditei na força dos detalhes de uma história", comentou. "Os leitores aceitam com mais facilidade."

Zusak lembrou o poder modificador da palavra quando citou a poesia de Silvia Plath como uma das suas leituras preferidas quando mais jovem – ele tem 32 anos. "Eu sempre ficava surpreendido com o impacto provocado pelo seu trabalho: imediatamente, eu criava imagens belíssimas na minha imaginação."

Ao final da conversa, o australiano divertiu os fãs ao tentar ler um trecho de seu livro em português (o resultado foi incompreensível) e ainda pediu para tirar uma foto da platéia. "Só assim minha família e meus amigos vão acreditar no sucesso que faço aqui no Brasil", disse ele, antes de enfrentar uma longa fila de autógrafos.

Bem menos assediados, o brasileiro Tabajara Ruas e o mexicano David Toscana discutiram o realismo da prosa, em um debate também realizado no sábado.

Depois de enterrar devidamente o realismo mágico, a dupla comentou aspectos da própria obra. O gaúcho Ruas lembrou que a escrita, em sua terra natal, sempre refletiu momentos turbulentos. "Em 200 anos de história, o Rio Grande do Sul foi sacudido por 23 guerras", disse ele, acreditando estar aí a origem de uma narrativa tão marcada pelo fantástico. "Tornou-se comum as tropas se divertirem com histórias de fantasmas."

O excesso de batalhas incentivou também, além da exacerbação de seu machismo, um arraigado sentimento de derrota no gaúcho, segundo o escritor. "Mas nem sempre isso foi bem entendido e, quando sim, não foi bem aceito", disse. "Eu até escrevi uma obra cujo título deixa isso bem claro, Neto Perde Sua Alma (Record), que também chegou ao cinema, mas as pessoas acreditavam que se tratava de uma exaltação, quando, na verdade, é uma saga com final trágico."

Já o mexicano Toscana revelou seu gosto por livros cujos personagens não estão casados com a lógica. "Gosto de torcer o mundo para retratá-lo de forma pouco convencional", contou ele, revelando assim sua admiração por D. Quixote. Influenciado pelo ambiente (a fronteira entre o México e os Estados Unidos, observou, separa dois mundos completamente distintos, algo pouco comum no mundo), Toscana confirmou sua crença no poder das palavras.

"Basta observar as fases de ditadura vividas por qualquer país", observou. "Uma das primeiras medidas é censurar a imprensa e proibir a circulação de diversos livros. Isso comprova a capacidade da literatura de mudar e transformar o pensamento das pessoas, o que atemoriza qualquer tipo de governo."

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