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São Paulo – Quem cresceu ouvindo música punk sente asco do rock progressivo da mesma forma que o diabo foge da cruz. Não é por afetação artística então que um sujeito como o vocalista e letrista da banda norte-americana The Mars Volta, Cedric Bixler-Zavala, de 31 anos, fique irritado com o rótulo sempre associado ao seu grupo, que acaba de lançar o terceiro CD, Amputechture, álbum que questiona a religião.

"Não vestimos capas, não falamos sobre Dungeons & Dragons (RPG)", diz Zavala. "A maioria das bandas progressivas são entediantes; nós viemos do punk, temos um elemento ao vivo que tem mais a ver com hardcore."

A confusão não é por menos. Se há algum rótulo aplicável ao Mars Volta, é o de uma das bandas mais intrigantes e inclassificáveis da atualidade. Algumas músicas extrapolam 15 minutos de duração, e poucas delas são lineares – o novo disco, que traz a participação do guitarrista maluco beleza John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers, é quase uma longa jam session. Numa mesma faixa, entram elementos do heavy metal – como os vocais agudíssimos –, salsa, free jazz, hardcore e, sim, rock progressivo e seu intrincado instrumental.

As letras escondem metáforas em inglês e espanhol. Anteriormente, ainda abraçaram o formato de álbuns conceituais.

Neste novo disco, a banda – que tocou no Tim Festival de 2004 – preferiu contar histórias independentes, mas unidas de alguma forma por uma idéia de deslocamento. Para Zavala, filho de mexicano, e seu parceiro de banda, Omar Rodriguez-Lopez, nascido em Porto Rico, temas como o peso da religião e imigração são particularmente próximos.

"Vi na televisão uma história sobre uma freira romena que foi morta porque se acreditava que ela estava possuída pelo diabo", conta Zavala. Ela foi amarrada em uma cruz por um monge. "Essa é a fórmula de como as religiões organizadas reprimem a mulher. Seja entre católicos, judeus, ou qualquer outro grupo, a impressão é de que a mulher é sempre tratada como um corpo, mesmo que sem ela você não tivesse vindo ao mundo. A religião é a causa das guerras no mundo."

Banda que concilia e faz a ponte entre estilos tão distantes como o punk e o progressivo, o Mars Volta é uma saudável anomalia no cenário. "O estado da música é entediante hoje porque o público e os críticos querem sempre mais do mesmo. Eles não entendem o que é diferente, e, se você não dá o básico, você confunde os outros. Não há problema em não entender; eu mesmo não entendo direito o que faço."

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