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Capa do CD "Martinho da Vila, do Brasil e do Mundo" | Reprodução
Capa do CD "Martinho da Vila, do Brasil e do Mundo"| Foto: Reprodução

Logo na primeira faixa de "Martinho da Vila, do Brasil e do Mundo", recém-lançado pelo selo "Casa do Martinho", da MZA Music, o sambista mostra a que veio e aonde vai. A música de trabalho "Vou viajar", parceria com Arlindo Cruz, já anuncia o espírito "malas prontas" do CD.

E a viagem vai muito além das fronteiras de "Brasilatinidade", que ganhou o Grammy Latino de melhor disco de samba em 2005, e de "Martinho José Ferreira ao vivo na Suíça", reunindo os melhores momentos de suas três apresentações no Festival de Mountreux, dois últimos trabalhos do cantor.

O novo disco é um passeio musical por diferentes estados brasileiros e por países com os quais o compositor tem alguma afinidade, seja musical ou afetiva - na lateral da capa, uma bela produção diga-se de passagem, há 14 bandeirinhas das nações em que Martinho já cantou.

"Esse disco é muito para o público de fora do país ouvir e ter uma noção mais ampla da música popular brasileira, do que há por aqui. Pensei em fazer uma viagem pelos lugares em que ando. Aí teria que fazer uns dez discos", brinca Martinho. "Então, tive a idéia de priorizar os estados com os quais tenho uma ligação de cidadania, que são Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Espírito Santo".

São Paulo não está nesta seleta lista. Mas nem por isso o sambista o deixou fora. Convidou Negra Li para representar o estado na batida do "sambão bão bão bão" - e do rap também - da faixa "O amor da gente", que abre a série de participações especiais, que inclui ainda nomes internacionais como o da amiga Madelaine Peyroux, em uma versão bilíngüe de "Madelena do Jucu (Madelaine, I love you)", e do argentino Fito Paez em "Por ti América", parceria dele com Martinho e Luiz Carlos da Vila.

Já "Dê uma chance ao amor" é a versão brasileira de Martinho para "Take a chance on love", de Teddy Hayes - o mesmo que traduziu Madalena do Jucu para o inglês -, cantada em dueto com Eliana Pittman. Em bom português mesmo, mas o de Portugal, o sambista leva a "Marcha de São Vicente", bairro da Terrinha aonde o sambista foi buscar a tradição das marchinhas lusitanas. De lá para a colônia Angola foi um pulo "Numa transa que trança / O samba de roda com a roda de samba" na releitura do músico para "Kalumba".

Apesar das referências estrangeiras, é a brasilidade de "Nossos contrastes" que resume bem o disco. A parceria com Nelson Sargento, com participação especial do Cidade Negra, já faz sucesso nas rádios com o samba-reggae que sintetiza a pluralidade musical do Brasil e do próprio cd.

"É impressionante como o Martinho consegue resumir em apenas duas palavras várias esferas da cultura brasileira nessa letra. Sempre tivemos ele e o Gilberto Gil como duas das grandes referências para o Cidade Negra. Pensávamos que, se um dia conseguíssemos fazer um pouquinho do que eles fizeram e fazem, já teríamos nos realizado muito", elogia Toni Garrido.

Os versos da canção remetem desde a "Fogo de Morteiro, bala de fuzil / Riqueza opulente, pobreza indecente", que caracterizam as disparidades socioeconômicas de diferentes brasis, a fusão de ritmos "Hip hop e Reggae / Seresta e Axé", este último presente na faixa " Te encontro no Ilê", com participações de Margareth Menezes e da Band' Aiyê. Do ilê ao frevo, Martinho homenageia o centenário do estilo musical pernambucano em um pout-pourri com três canções de Getúlio Cavalcanti.

"Copacabana", de Braguinha, ganha arranjos jazzísticos para falar da praia universalmente conhecida. O amor também tem vez na autoexplicativa "Nos amamos", com o soluçar melancólico da cuíca, e em "Ó que banzo, Preta", em que o compositor canta a saudade que o toma durante as viagens e o afasta da sua Vila, "cada dia mais distante", como diz um dos versos. Apesar disso, a contenda com sua escola do coração também parece ter ficado distante, no passado.

"Aquilo foi papo furado. Naquele ano, eles me ouviram bastante. Dei bastante opinião no desfile e a escola acabou campeã. No ano passado, não dei tanto pitaco e, este ano (carnaval de 2008), eles pediram para eu acompanhar mais de perto", contemporiza o sambista.

Vem de Vila Isabel, aliás, "Glórias gaúchas", o samba que encerra o disco no pout-pourri com "Candongueiro", em que Martinho se despede do Rio Grande do Sul, das Minas Gerais e do Brasil, até sua próxima viagem musical. Qual será? "Nem quero pensar, porque, quando invento uma coisa, eu degusto aquilo dia e noite. Fico pensando naquilo o tempo todo e é uma chatice. As coisas vão acontecendo devagar e sempre".

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