
No fim dos anos 1990, a Marvel Comics passava por maus bocados no meio de disputas judiciais e dívidas que quase a levaram à falência. Uma das saídas para a crise veio de um personagem do submundo de suas histórias em quadrinhos. Em 1998, Blade O Caçador de Vampiros, baseado em um coadjuvante do gibi A Tumba de Drácula, se tornaria o primeiro sucesso de um personagem da editora.
De lá para cá, a empresa se reergueu e se tornou uma potência cinematográfica, lançando dois arrasa-quarteirões por ano. O último da safra recente é Guardiões da Galáxia, que estreia na próxima quinta-feira, 31, no Brasil. Como em Blade, o time de protagonistas da produção dirigida por James Gunn (de Super) é formado por figuras praticamente desconhecidas fora do universo dos fãs.
"Lembro de ler pouco sobre eles quando criança. Eram tramas bem lado B da Marvel", comenta o desenhista Marcelo Di Chiara, que assinou histórias do Homem-Aranha e do Homem de Ferro e hoje dá aulas de quadrinhos na Espaço de Arte, em Curitiba. "Para mim, eles nunca tiveram o peso de um Quarteto Fantástico ou dos X-Men", complementa.
História
O investimento em personagens obscuros para o cinema foi consequência de decisões administrativas da empresa. Em Marvel Comics A História Secreta, o jornalista norte-americano Sean Howe relata que desde que assumiu a direção da editora, no fim dos anos 1960, o roteirista Stan Lee sempre teve pretensão de levar os heróis da editora para o cinema.
O problema é que os estúdios de Hollywood adquiriam os direitos de adaptação, mas não tinham condições de levar o universo dos quadrinhos para a frente das câmeras. "Você já viu o seriado do Homem-Aranha dos anos 1970 ?", questiona o historiador Rodrigo Scama, pesquisador do tema. "Era inviável fazer produções interessantes sem a tecnologia para ter efeitos visuais adequados."
Sem os direitos de seus principais personagens, a editora precisou recorrer ao seu catálogo mais obscuro. O primeiro investimento nesse sentido naufragou feio nas bilheterias. Com produção executiva de George Lucas (diretor de Guerra nas Estrelas), Howard, o Super-Herói (1986) custou US$ 35 milhões e arrecadou apenas US$ 15 milhões.
O fracasso da superprodução fez com que os estúdios recuassem e se arriscassem apenas em projetos menores e com baixo orçamento, como O Justiceiro (1989) e Capitão América (1990). Depois do lançamento de Blade, que encerrou o período de vacas magras da editora, estava livre o caminho para a estreia de X-Men (2000), Homem-Aranha (2002) e Hulk (2003).
O sucesso das adaptações levou a criação da Marvel Studios, que iniciou um projeto de universo integrado no cinema, com O Homem de Ferro (2008), Thor (2011) e Os Vingadores (2012). "Os personagens desconhecidos se tornaram uma boa maneira de criar novas franquias e experimentar linguagens", avalia Liber Paz, que pesquisa quadrinhos em seu doutorado.
Aposta mais ousada da empresa, Os Guardiões da Galáxia deve abrir as portas para outros personagens que geralmente ficam no banco de reservas. É o caso de O Homem Formiga e Dr. Estranho, previstos para estrear até 2018. Os super-heróis que não ganharem espaço no cinema podem ser aproveitados na televisão, como nas já anunciadas séries de Luke Cage, Jessica Jones e Punho de Ferro, produzidas pelo Netflix.










