A estreia brasileira em 2 de novembro do filme “Doutor Estranho”, data do aniversário de seu criador visual, Steve Ditko, talvez não seja coincidência. É possível que seja mais que um certo reconhecimento ao seu trabalho como importante mente criativa dos quadrinhos no século 20. Mas também uma saudável bebida numa fonte criativa que vai além dos desígnios estabelecidos pelo roteirista/ celebridade Stan Lee.
Juntos, Lee e Ditko criaram nada menos que o Homem-Aranha, herói seminal do universo Marvel e do imaginário popular mundial. Criaram também um dos seus personagens mais “cult”, Stephen Strange – o “Doutor Estranho”.
Ditko também é cult. Tanto que, ao contrário de seu célebre parceiro, não é fotografado há décadas. Se recusa a dar entrevistas e foge de todo holofote que suas criações podem oferecer. No auge do sucesso de vendas do escalador de paredes, ousou romper com Lee e abandonar a editora que o consagrou por não concordar com os rumos sonhados pelo roteirista.
Volta às origens
Originalmente a série do mago fez sucesso sobretudo entre leitores universitários da década de 1960, que viram no psicodelismo visual das HQs uma simbologia não somente do uso de drogas, mas das convulsões sociais da época nos Estados Unidos. Sem Ditko, no entanto, Stan Lee não levou a série longe.
Mesmo bem cotado entre os críticos e sendo um personagem de relevância no universo das HQs, há anos ele amargava a existência sem uma revista mensal, exilado em minisséries ou aparições especiais. Nunca foi um sucesso de vendas. Todos o conheciam, mas ninguém parecia lê-lo de fato. Talvez por isso a Marvel sabia que estava diante de uma ótima franquia potencial para as telas.
O acréscimo do Doutor ao universo Marvel pode realmente a ser o alento criativo que o universo compartilhado de super-heróis precisa para renovar seu fôlego. Num ano de truculência no gênero – vide o sucesso de “Deadpool”, “Batman vs. Superman” e “Capitão América: Guerra Civil” –, um episódio de origem acaba sendo quase como uma volta às raízes.
Visual
O filme “inova” sem mergulhar de cabeça na estética insana de Steve Ditko. Em algumas cenas o psicodelismo flerta com o apuro visual das HQs, mas, em sua maioria, os efeitos que aperfeiçoam conceitos visuais de “A Origem” (2010) trazem o expectador a um nível de delírio mais familiar.