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Confira o trabalho de resgate histórico em http://amemoriadosesquecidos.blogspot.com.br/
"Não sou colecionador. Não guardo as coisas para mim. Gosto de deixá-las disponíveis para que todos possam conhecê-las", explica o empresário Paulo José da Costa. "Se fica guardado na gaveta vem o herdeiro, o incêndio, a goteira e o bicho", conclui com conhecimento de causa..
Proprietário do sebo Fígaro (e de outras lojas do ramo) há mais de 20 anos, Costa manuseia diariamente centenas de livros, discos e revistas. Mas confessa ter um especial apreço pelos anexos que os acompanham, que outros sebistas desprezam. "Mas que eu, por alguma razão que desconheço, teimo em guardar", explica.
São poemas e livros inéditos, filmes e fotos de pessoas do passado, de pessoas comuns ou de artistas diletantes que hoje jazem no esquecimento.
"Retratos do cotidiano de outro tempo tirado de caixas de lembranças, álbuns de família esquecidos, diários nunca lidos, cartas escondidas", observa.
Parte deste material, Costa passou a compartilhar desde o ano passado em um blog chamado "A Memória dos Esquecidos".
Nas postagens que já estão no ar há, por exemplo, uma verdadeira biografia contada por fotos, recortes de jornal e cartazes do radialista Hamilton Correa, cuja memória se perdeu no ar desde a década de 1960 e que servem de panorama do rádio curitibano de sua época.
Para os próximos dias, Costa promete a postagem de parte da produção do poeta e jornalista Edgar Yamagami, falecido no ano passado.
"O irmão dele me dou a sua biblioteca e me deu autorização para tornar público haicais e poemas do seu livro inédito Restos e Migalhas", afirma.
Também deve ir para o ar em breve o trabalho de Maria de Lourdes Gomes, uma dona de casa da classe alta curitibana da década de 1950, com ótima formação intelectual e veleidades literárias.
"Ela tinha uma filha com síndrome de Down, e numa época que a sociedade tinha muito preconceito e desinformação sobre isto, ela foi uma pioneira, montou uma entidade de inclusão das pessoas especiais, fazia questão de que a filha acompanhasse a família nos clubes e bailes", conta.
Maria de Lourdes também escreveu vários livros de poesia sobre a relação com a filha e um romance de ficção inédito que deve ir na íntegra para o blog depois de devidamente escaneado.
Álbuns de família
Aliás, para um construtor que tem o passado como argamassa, Costa é íntimo das tecnologias e muito atuante na internet e nas redes sociais. Mantém um canal no YouTube com centenas de filmes antigos e gravações feitas com câmera na mão e a ideia da preservação da memória na cabeça de concertos eruditos e populares.
Mantém também um blog pessoal que leva seu nome e páginas nas redes sociais de sua cadeia de sebos, em que disponibiliza parte de seu acervo de cerca de 30 mil fotos e inúmeros álbuns de família, 200 filmes históricos, outros milhares de negativos e papeis sem conta.
O material chega às mãos de Costa por caminhos diversos. Resgatado, salvo, comprado ou doado. Até catadores que conhecem o memorialista e sabem que ele oferece um preço bem melhor do que a venda a quilo nas cooperativas de papel.
Projeto
Nos próximos dois anos, ele pretende concluir um projeto para o qual tem se dedicado nos últimos dez: um livro sobre o cotidiano das pessoas e de seus álbuns de família.
Para Costa, essas fotos e escritos têm extraordinário valor documental. "São janelas para a vida das pessoas ou para um determinado tempo", filosofa.
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