Quem se emocionou com canções como "Caçador de mim" (Milton Nascimento), "Gita" (Raul Seixas), "Como nossos pais" (Elis Regina), "Aquarela" (Toquinho) e "Se eu não te amasse tanto assim" (Ivete Sangalo). Quem já pulou ao som de "Realce" (Gilberto Gil), "Taj Mahal" (Jorge Ben), "Dancin' days" (Frenéticas) e "The obvious child" (Paul Simon) não sabe que por trás de tudo isso está Marco Mazzola, esta figura quase invisível na música brasileira, o produtor.
Dono da gravadora MZA Music, fundada há dez anos, ele está comemorando 30 anos de carreira com um currículo de produções que lhe valeram a soma de 50 milhões de discos vendidos. Todas as músicas citadas estão no CD duplo "MPBZ", lançado para comemorar a data, com 32 músicas e um libreto onde há depoimentos de artistas produzidos por ele e amigos.
Além de produtor, ele ocupou cargos de direção na Warner, levado por André Midani e na Ariola, e, como homem de indústria, não saiu ileso de críticas de artistas que reclamaram de sua mão de ferro, como Simone e Ney Matogrosso. A primeira ressalva que, "entre tapas e beijos sobrou o amor". O que importa neste mercado é o sucesso e Mazzola ajudou dezenas de artistas a galgar as paradas e a ter vendas fantásticas, como o grupo RPM em seu disco ao vivo de 1986 que vendeu 2,7 milhões de cópias. Ele diz que seu maior número é o CD "Rhythm of the saints", de Paul Simon, mas as vendas americanas deste disco são de pouco mais de 2 milhões de cópias na América, segundo registros da Associação da Indústria Fonográfica da América, os únicos dados disponíveis.
Histórias
O que é indiscutível é que ele sabe farejar o sucesso. Quando estava selecionando repertório com Elis Regina para o disco "Falso brilhante" (1976), ela lhe apresentou a fita de um compositor que lhe deram quando fez um show em Fortaleza. Era Belchior, de quem a Pimentinha gravou "Como nossos pais":
- Elis tinha essa capacidade de descobrir gente nova. Antes que eu acabasse o disco dela, ele veio para São Paulo e foi morar numa obra porque não tinha onde ficar. Um dia ela me apresentou e ele mostrou músicas como "Apenas um rapaz latino americano" e decidi gravar - conta ele. O resultado foi o disco "Alucinação" (1976) que estourou o moço pelo país com uma roupagem pop bem diferente da produção capenga de um disco gravado por Belchior dois anos antes na gravadora regional Chantecler.
Mazzola produziu seis discos de Raul Seixas, incluindo o primeiro, "Krig-ha bandolo" (1973) e o segundo, "Gita" (1974) que transformou Raulzito em sucesso nacional, a ponto do regime militar permitir sua volta do exílio em Nova York, onde estava com o parceiro Paulo Coelho.
Raul só o chamava de Mazzoleira, os dois ficaram amigos e ele lhe delegava as coisas no estúdio, além de lhe pregar sustos, como quando foi para uma reunião na casa de Raul e ele e Paulo Coelho o mandaram entrar numa sala e fecharam a porta atrás. Estava cheia de símbolos místicos, uma bandeira vermelha e velas. Tudo isso para zoar o produtor, sempre cabreiro com os papos deles sobre magia.
Mercado
Mazzola lança no ano que vem um DVD-áudio do LP "Gita" com mixagem em 5.1 que dará uma nova perspectiva sonora ao disco. Mazzola diz que a faixa-título, "Gita", tem 65 músicos tocando e, para caber nos quatro canais, ele fez um trabalho de dinâmica, calando uma parte dos instrumentos em determinados trechos para que outros pudessem ser ouvidos.
Quando ele estava na Warner, o chefão André Midani colocou-lhe uma faca no peito e obrigou-o a fazer o primeiro disco de Rita Lee com a banda Tutti Frutti, "Atrás do porto tem uma cidade" (1974).
- Era um bando de maluco com aquele coisa de paz e amor, tudo doidaço, eu achei que não ia dar certo. Eu dava aula de karatê, era um cara muito equilibrado, para chegar a algum lugar, você tem que ficar com o pé no chão, senão fica viajando. No primeiro dia de gravação, uma confusão do cacete, o baterista tocando o tempo todo, pedi para ele parar para tentar organizar, gravamos e não funcionou. Todo dia eu tentava falar com ela e não conseguia. Falei com o André e ele mandou continuar. Aí um dia virei para a Rita e disse que não estava satisfeito com a história e ia gravar duas músicas com ela tocando e cantando mas com outros músicos, "Mamãe natureza" e "Menino bonito". Quando todos ouviram prontas, resolveram trabalhar - conta ele.
Mazzola trabalhou com Paul Simon em "Rhythm of the saints" (1990), sucessor do consagrado "Graceland" (1986). Ele conta que estava em Los Angeles gravando e Simon estava no mesmo estúdio um andar acima. Contaram a ele que o produtor de Elis Regina e Milton Nascimento estava no prédio.
- Acabamos no encontrando, dei parabéns a ele por "Graceland" e lhe disse que precisava ir ao Brasil, onde tínhamos uma enorme riqueza de ritmos. Ele me ligou 15 dias depois marcando a viagem e planejei levá-lo de Recife a Porto Alegre em 10 dias. Ele perguntou por onde eu queria começar, respondi que por Salvador e Recife. Ele disse que iria às duas cidades, voltaria para fazer shows nos Estados Unidos e retornaria para a segunda etapa. O primeiro lugar que eu o levei foi no Olodum. Quando ele viu, disse que não precisava ver mais nada e pediu que eu gravasse aquilo para ele no dia seguinte. Mandei vir equipamento do Rio, gravei ao vivo no Pelourinho e levei para Los Angeles. Isso ajudou muito a divulgar a música brasileira e a explodir a música baiana - diz ele.
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