Resumir meio século de carreira em um único show pode ser visto como uma estratégia caça-níqueis, oportunista. Fadada, inevitavelmente, a reduzir a vastidão de um trajeto criativo como o de Milton Nascimento a um espetáculo retrospectivo, sem qualquer intento de releitura ou reinvenção do que já está sacramentado e consagrado.
Gravado ao vivo no Rio de Janeiro (RJ), em apresentação feita na casa Vivo Rio em 25 de novembro de 2012, o show Uma Travessia 50 Anos de Carreira, já nas lojas em DVD e em CD duplo, não deixa de se enquadrar nesse formato, digamos, suspeito.
Mas o pacote da MP,B Discos, distribuída pela gravadora Universal Music, também tem um valor documental importante: é o registro de um artista de 70 anos, de saúde por vezes oscilante, que revisita o próprio repertório com a emoção de quem olha pelo retrovisor. Sua voz, que já foi espetacular, talvez não seja mais a mesma, mas não há como não se emocionar com o espetáculo, até por conta da coragem do artista de se expor em sua fragilidade.
O show, dirigido por Régis Faria, contou com a participação do pianista e maestro Wagner Tiso em "Vera Cruz" (de Milton Nascimento e Márcio Borges, composta em 1969) e em "Coração de Estudante", de sua autoria com Milton, e lançada em 1983, quando a canção se tornou um dos hinos do movimento Diretas Já pedia a volta das eleições diretas à Presidência da República.
O cantor e compositor mineiro Lô Borges, amigo de juventude de Milton, participou da turnê de Uma Travessia 50 Anos de Carreira e divide com Bituca (apelido de Milton entre seus íntimos) o clássico "Clube da Esquina n.° 2", coescrita pelos dois em 1972. Também participa de "Nada Será como Antes" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972), "Nuvem Cigana" (Lô Borges e Milton Nascimento, 1972), "Para Lennon e McCartney" (Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant, 1970), "O Trem Azul" (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) e "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" (Márcio Borges e Lô Borges, 1972).
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