A bordo de um espanhol não exatamente tranquilo, o israelense Ioram Melcer realizou, em pouco mais de uma hora, uma interessante palestra, no Clube Concórdia, sobre os limites técnicos entre religião e literatura. A partir do tema Deus, Protagonista do Grande Romance da Bíblia, ele investigou as relações do texto bíblico com as questões narrativas básicas. "A Bíblia tem uma potência performática enorme, como um romance de formação, em que um personagem, Deus, chega sem passado e sem história e dá origem a tudo".

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Ele também considerou por um ângulo semântico as diversas denominações de Deus ao longo do livro, e abordou particularidades das diversas traduções dos textos sagrados, desde os aspectos da tradição oral às batalhas políticas dos tempos. "A Bíblia é um texto aberto, catalisador de diversas interpretações. Seu campo literário é enorme e os tradutores tomaram algumas liberdades nesse processo. Funciona assim nas traduções de Shakespeare e de Cortázar também", afirmou. "O texto, de 2400 anos, é um sucesso editorial".

Já na reta final de sua palestra, Ioram se viu diante de algumas perguntas embaraçosas. Um espectador perguntou se ele achava Deus, com todo seu potencial de vaidade, soberba, vingança e violência, um pecador. A resposta encerrou com classe uma palestra equilibrada, sem maniqueísmos e que tratou com classe um tema de contornos explosivos. "Poderíamos dizer, sim, que Deus é um pecador. O seu castigo, então, é de existir entre nós e em nosso universo", contornou com uma certa ironia. "Sobretudo, a Bíblia é um texto de rara beleza e grande valor linguístico, psicológico e literário".

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