CD/DVD
Batuques do Meu Lugar
Arlindo Cruz. Sony Music. Samba. Lançamento previsto para 8 de outubro.
Nas redondezas do terreiro da Tia Ciata (1854-1924), ponto de encontro dos inventores do samba Pixinguinha, Donga e João da Baiana. Perto do Morro da Providência, que abrigou a primeira favela carioca no fim do século 19. Em frente ao monumento a Zumbi dos Palmares. E ao lado do Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
Assim o sambista e compositor Arlindo Cruz mapeia os significados do Terreirão do Samba, espaço para shows localizado próximo à antiga Praça Onze, no Rio de Janeiro cenário escolhido para a gravação de seu novo DVD, Batuques do Meu Lugar, com lançamento previsto para o início de outubro. A faixa "Vai Embora Tristeza" estreia nas rádios na próxima terça-feira, 25.
"É como se fosse um lugar mágico, a Meca do samba", explica Arlindo, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "Acho que todas as divindades do samba abençoaram. Gravamos em uma semana chuvosa. O único dia em que não choveu foi na quarta-feira da gravação. Na quinta, voltou a descer o toró", conta.
A carga histórica tem a ver com o conceito do show, que tem 25 músicas no DVD, e uma seleção de 15 canções no CD. O roteiro é dividido em movimentos, cada um representando uma parte da história de Arlindo. "Todos os Batuques" traz os ritmos que influenciaram sua obra, a exemplo de Candeia (1935-1978), que o músico reverencia como mestre. "A obra dele sempre teve um pouco de mistura do samba com coisas folclóricas e ritmos afro-brasileiros, como afoxé, ijexá, jongo, maculelê", diz. Nos outros movimentos, o grande tema é o samba carioca.
Convidados
A mistura se materializa também na seleção de convidados para o show. Caetano Veloso participa de "Trilha do Amor" de acordo com Arlindo, um samba com harmonia e melodia mais elaborada, com influências da bossa nova. Alcione faz jus a "Quando Falo de Amor", um samba mais "dor de cotovelo", conforme explica o sambista. "Toda vez que o povo brasileiro fala de amor, uma das primeiras vozes que vêm à lembrança é a dela", diz.
Marcelo D2 canta e rima em "Sem Endereço", parceria que também têm significado histórico para Arlindo. "O rap é música de origem negra, música de gueto, assim como o samba, que é música de favela. Também tem a história do improviso, assim como no partido alto", explica.
Os outros convidados, Zeca Pagodinho e Sombrinha, têm histórias que se confundem com as do próprio anfitrião no partido alto do bloco Cacique de Ramos. "Esse samba é muito da essência do meu trabalho."
O filho, Arlindo Neto, participa das homenagens às escolas de samba Vila Isabel e Império Serrano, no fim do DVD.
"Consegui contar tudo o que quis por meio da minha música, as canções que fiz e as que interpreto", explica. "A coisa mais difícil foi tirar músicas. Tem que ter critério, senão eu faria seis horas de DVD e ficaria devendo", brinca.
Arlindo fala do alto de suas mais de 550 composições em 35 anos de carreira. A principal inspiração, de acordo com o sambista, também está representada no DVD na apresentação de Regina Casé. "Ela é fundamental na minha carreira, na divulgação do meu trabalho, no aumento de público no Brasil inteiro. E para fazer a síntese também do povo brasileiro", explica. "É o nosso mote principal. Tudo o que acontece, a gente recolhe, cria personagens, cria histórias, e devolve em forma de música, assim como ensinou Noel Rosa. A partir dele, todos os compositores passaram a ser cronistas de seu tempo. Falando, cantando, causos e lendas do povo brasileiro."
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