Quando a jornalista e designer Letícia Junqueira foi ao cinema pela primeira vez, teve de criar coragem para assistir a Labirinto A Magia do Tempo, de 1986, protagonizado pelo cantor David Bowie, no papel do cruel e sedutor rei dos duendes Jareth. "Eu tinha uma relação de medo e paixão pelo Bowie, e acho que muitas meninas sentiam a mesma coisa. Ele assustava, mas também era encantador", conta.
O universo mágico dos duendes e dos desajeitados monstros da ficção também atraíam a atenção do público. O filme acabou servindo de referência para outras produções do gênero, como o longa-metragem nacional Super Xuxa Contra o Baixo Astral. "Algumas cenas são idênticas ao Labirinto", observa Letícia.
A jornalista passou vários anos procurando uma cópia do filme enquanto vivia em Umuarama (PR), mas só a encontrou quando veio morar em Curitiba. Alugou o filme diversas vezes e conhecia todas as músicas da trilha sonora.
Ganhou o LP de um antigo namorado e finalmente conseguiu comprar o DVD, lançado recentemente. "Dois meses depois de um amigo meu ter me dado uma cópia pirata, encontrei o filme na internet. Ele é ótimo porque ainda conta com um documentário de uma hora sobre os bastidores", conta.
Outro filme da década de 80, Os Caçadores da Arca Perdida (1981), marcou a vida do diretor de teatro e videomaker Paulo Biscaia Filho. A primeira parte da trilogia de Indiana Jones, criado pelo diretor Steven Spielberg, influenciou a sua escolha profissional. "Este filme me fez gostar de cinema. Primeiro gostei dele por falar de História e Arqueologia, mas aos poucos fui descobrindo a sua linguagem narrativa e comecei a prestar atenção nas seqüências e nos efeitos especiais", conta.
Com 12 anos de idade, Biscaia assistiu ao filme mais de 20 vezes no antigo Cine Bristol. "Eu saía da casa da minha tia e me mandava para lá para pegar a primeira sessão. Todas as vezes consegui furar a censura de 14 anos", lembra.
Outros filmes inesquecíveis da infância de Biscaia foram os desenhos da Disney, que eram exibidos nos matinês de domingo, e o filme Mary Poppins, de 1964.
Lembranças clássicas
O cinema também influenciou as escolhas do diretor de teatro Hugo Mengarelli. Quando assistiu a Os Brutos Também Amam, lançado em 1953, desenvolveu o gosto pelos filmes de faroeste, que são inspiração para os seus trabalhos. "Até hoje eu tenho uma paixão enorme por este filme. Eu costumava encenar o final dele com os meus amigos várias vezes. Eu tinha um chapéu e um revólver parecido com aquele usado pelo herói. Já prestei muitas homenagens a ele no teatro ", conta.
Apesar do diretor ter uma grande coleção de tesouros do cinema, o DVD do filme que ele conhecia como El Desconocido, quando vivia na Argentina, ainda é o seu favorito. "O diretor George Stevens fez um belíssimo trabalho, a sua narrativa é excepcional. Para mim, a produção é antológica", acredita.
Vários outros clássicos do cinema também fazem parte da memória afetiva de Mengarelli, entre eles a versão original de A Guerra dos Mundos (1953) e A Estrada (1954), do diretor italiano Federico Fellini. "Quando eu era criança, achava a história e os cenários de Fellini magníficos, são uma obra-prima", argumenta.
No caso da professora Bernadete Araújo, foi a história real de uma noviça que deixa o convento para trabalhar como governanta que a encantou. Antes da produção americana de A Noviça Rebelde ser lançada nos cinemas durante a década de 60, ela já tinha assitido à versão alemã, dividida em três partes. "O que mais me chamava a atenção era a beleza dos cenários naturais e a criatividade da personagem que conseguiu transformar a vida de uma família através do amor e da música", explica.
Quando ainda era menina, a verdadeira família Von Trapp, que fugiu da Áustria por causa da Segunda Guerra Mundial, excursionou por vários países e chegou a se apresentar em Curitiba. Bernadete não conseguiu conferir o show, porque era muito nova. Mas, mesmo assim, não desistiu de descobrir novas informações sobre os personagens da história. Procurava em revistas e em jornais e, recentemente, leu que um dos dez filhos da ex-noviça administrava um hotel em Vermont, nos Estados Unidos. "O mais interessante é que eles viveram tudo aquilo de verdade, não era ficção. É um filme que passa uma mensagem muito positiva", acredita.
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