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A estréia de hoje no Guairinha promete ousadia, em sua forma e conteúdo. Memória, do diretor carioca Moacir Chaves, tem a pretensão de ser uma adaptação mais do que livre – quase libertária – da obra mais radical de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. O espetáculo é uma produção do Teatro de Comédia do Paraná – TCP, do Centro Cultural Teatro Guaíra. Todos os anos, o TCP convida um diretor para montar uma peça. No ano passado, esteve em cartaz Pico na Veia, de Marcelo Marchioro, baseada no livro homônimo de Dalton Trevisan.

Narrada em primeira pessoa pelo defunto Brás Cubas, que escreve sua autobiografia do além-túmulo, a obra machadiana causou espanto à crítica da época por sua ousadia do ponto de vista formal. O romance, considerado o primeiro exemplar do Realismo brasileiro, foi publicado pela primeira vez em 1880, no formato de folhetim, na Revista Brasileira.

"O livro foi um marco de radicalidade na carreira do escritor. A peça é uma proposta de libertação de estruturas convencionais", explica Chaves. Embora utilize elementos da obra de Machado de Assis, o diretor não teve a preocupação de dramatizá-lo. Por isso, não vá assistir a Memória com a idéia preconcebida de uma montagem tradicional, composta por personagens, diálogos e um enredo com começo, meio e fim. Apesar disso, Chaves considera seu trabalho fidelíssimo às palavras do escritor, mesmo que o resultado tenha sido um texto próprio. "A obra está muito ali, mas em sua essência", explica.

A novidade começa com a escolha do elenco pelo diretor, feita após a realização de uma oficina teatral, em junho. Inscreveram-se 120 candidatos e, destes, nove levarão as palavras do defunto ao palco: Carlos Vilas-Boas, Kassandra Speltri, Katiuscia Canoro, Leandro Daniel, Patrícia Kamis, Renata Hardy, Rodrigo Ferrarini, Sidy Correa e Simone Magalhães. O espetáculo pode ser considerado uma obra coletiva, pois foi criada pelo diretor juntamente com o elenco. Para dar conta de uma proposta de tamanha ousadia, os atores foram orientados a atuar como se não houvesse nada a perder. "A intenção é se livrar da platéia, do olhar do outro. Um determinado Machado morreu depois de Brás Cubas", afirma o diretor. "A pretensão dos atores também é morrer, o que significa tornar o palco um espaço de criação, sem regras estabelecidas".

Memória, a despeito do nome, não é uma peça evocativa e nem uma representação metafórica do Brasil, mas uma reflexão sobre ele. "Isso que trazemos não é do século 19, é do nosso tempo, do nosso século. Somos nós mesmos, pensando sobre as nossas vidas", explica Moacir Chaves, que atualmente dirige outro espetáculo no Rio de janeiro, Lavanderia Brasil, de Miguel Paiva e Zé Rodrix.

Serviço: Memória. Guairinha (R. XV de Novembro, s/n.º), (41) 3315-0979. Direção de Moacir Chaves. De quinta-feira a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia).

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