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O diretor Cao Hamburger se notabilizou pela criação de programas infantis e infanto-juvenis da TV Cultura de São Paulo, como Rá-Tim-Bum e Castelo Rá-Tim-Bum, premiados internacionalmente. Seus primeiros trabalhos em cinema também seguiram pela temática das crianças, tanto em curtas-metragens (realizou uma ficção e três animações) como na estréia em longas com Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme. A passagem para o público adulto veio neste ano com a série Filhos do Carnaval, do canal pago HBO, e com o lançamento do segundo longa-metragem, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, principal estréia de hoje nos cinemas brasileiros.

Cao, contudo, não foge completamente do universo que o consagrou em seu novo filme, que tem como personagem central uma criança. O menino Mauro (Michel Joelsas) vive em Belo Horizonte, no ano de 1970. Fanático por futebol, ele aguarda com ansiedade o início da Copa do Mundo, que consagraria a seleção brasileira. Mas seus pais (Simone Spoladore e Eduardo Moreira) decidem levá-lo a São Paulo para ficar um tempo com o avô (Paulo Autran), enquanto tiram "férias" – na verdade, estão sendo perseguidos pela ditadura. Na pressa em fugir, o casal deixa Mauro na porta do prédio do avô e não confere se ele está em casa. Não só não está, como acaba de morrer. Sozinha, a criança acaba sendo adotada pela comunidade judaica do avô. Ao lado dos novos amigos na cidade, Mauro vive a tensa expectativa da volta dos pais e a euforia pelo desempenho do Brasil no campeonato mundial.

Segundo o diretor, a história tem muitos aspectos biográficos. Por exemplo, Cao tinha a mesma idade de Mauro no período retratado, e também é filho de pai judeu e mãe católica. "E, assim como ele, fui goleiro do time da minha rua. Muito bom goleiro", diverte-se, em entrevista ao Caderno G – vale lembrar que o primeiro nome do filme era Goleiro. O co-roteirista Cláudio Galperin morou no Bom Retiro, bairro paulistano apresentado na produção. O cineasta também tinha na sua turma uma menina como Hanna (Daniela Piepszyk) – um dos melhores personagens do filme. "Ela jogava descalça, tinha o chute mais forte de todos e era mais moleque do que qualquer um de nós", comenta.

Mas O Ano... não é um filme autobiográfico. "Apresentamos coisas nossas que fazem parte da infância de muita gente, mesmo de quem não viveu aquela época. O lado mais forte é o psicológico. Como crescer com a adversidade, a importância da solidão, como às vezes nos sentimos exilados sem sair do próprio país", explica Cao.

A identificação fica clara na boa recepção que a produção tem tido nos festivais que participou recentemente – ganhou o prêmio de público do Festival do Rio e é finalista para a mesma laureação na Mostra Internacional de São Paulo, que termina hoje. "O filme está se comunicando, chegando no coração das pessoas", fala Cao, que tenta não criar uma expectativa muito grande de desempenho de bilheteria, mesmo com a boa potencialidade de público do trabalho que está apresentando.

O diretor diz que gostou da experiência de fazer cinema para uma audiência mais adulta e que, daqui para frente, pretende se alternar entre projetos voltados às crianças e ao público mais maduro. Seu próximo filme tem o nome provisório de UTI e será um thriller psicológico, falando sobre como a certeza da morte pode influenciar a vida de uma pessoa. Na área infantil, Cao pretende desenvolver um novo programa infantil e também outro projeto relacionado a Castelo Rá-Tim-Bum, talvez um novo filme ou uma série de DVDs.

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