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Os integrantes do Grupo Galpão ensaiam Aos Que Vierem Depois de Nós: desafio é ler além do texto | Divulgação
Os integrantes do Grupo Galpão ensaiam Aos Que Vierem Depois de Nós: desafio é ler além do texto| Foto: Divulgação

Entrevista

Yara de Novaes, diretora de Aos Que Vierem Depois de Nós.

Como veio o convite para dirigir Aos Que Vierem Depois de Nós?

Sou de Belo Horizonte, apesar de morar em São Paulo, eu tive uma aproximação com o Galpão quando substituí [a atriz] Fernanda Vianna em O Inspetor Geral [2003]. Com Aos Que Vierem Depois de Nós eles tinham vontade de trabalhar mais verticalmente com os personagens e veio a ideia de uma montagem um pouco mais realista, com uma construção mais psicológica e mais conexão entre intérprete e personagem. É o que eu venho fazendo em meu trabalho de direção, em que o personagem é alguém crível.

O que define o teatro psicológico?

A princípio ele está mais próximo do realismo, onde as ações dos personagens em cena são originadas de um movimento da psique. Há personagens cujas falas são importantes, mas importa o que está por trás das falas. Um pensamento, uma memória, o que chamam de "corrente submarina" – é como se houvesse algo que se sobrepõe à ação e à fala.

O que tem relação com o teatro russo, não?

Com Chekhov sobretudo, em que o teatro é muito mais do que a verossimilhança. É o teatro dos estados da alma. Ele trabalha com o realismo, mas não arqueológico, e sim como alusão a estados da alma.

Como ocorre o "mergulho vertical" nas personagens?

Significa construir a personagem de tal maneira que ela tenha vida quase independente do enredo. Que ela alcance autonomia, e a reação do espectador seja de total credulidade. Cria a sensação de que a personagem "há", como um ser autônomo. Tio Vânia pode ser considerado um texto atemporal e universal.

Por outro lado, existem elementos de brasilidade na montagem?

Não sei se existe uma cor local, se ela é brasileira. O que há são homens diante de um momento da vida, com relações de submissão, perda de utopia, e isso não tem latitude nem tempo. Por isso os grandes mestres da dramaturgia nos cabem como uma luva.

Este é o ano russo do Grupo Galpão. Os mineiros estreiam Aos Que Vierem Depois de Nós, adaptação de Tio Vânia, de Anton Chekhov, no Festival de Curitiba, e em seguida partem para uma montagem baseada nos contos do autor, com direção do russo Jurij Alschitz. Haja imersão e pesquisa para o tipo de trabalho que o autor exige, em que o texto vai além das palavras.

Em Tio Vânia, peça escrita no fim do século 19, a desilusão com o presente e o desalento com o futuro dão o tom. Para executar este que é um dos textos fundadores do teatro moderno, os sete atores fizeram um "mergulho psicológico" em seus personagens e deixaram a diretora Yara de Novaes impressionada (leia, ao lado, a entrevista concedida à Gazeta do Povo).

Yara foi convidada especialmente para este trabalho – uma tradição dentro do Galpão, que já foi dirigido por nomes como Gabriel Villela, Cacá Carvalho e Paulo José.

Tradição

Quem acompanha o festival desde o início deve conhecer o Grupo Galpão, que tem quase 30 anos de história. No primeiro ano da mostra contemporânea (1992), eles trouxeram um Romeu e Julieta calcado no teatro de rua. O sucesso da peça foi reconhecido primeiro aqui, com o prêmio de melhor espetáculo do ano pelo júri popular do festival. O Shell veio em 1993. Eles foram além: no ano 2000, a montagem foi encenada no Globe Theatre de Londres – foi a primeira vez que um grupo brasileiro chegou ao antigo palco de Shakespeare.

Sempre investindo em novas pesquisas, o Galpão se manteve presente no festival e trouxe, no ano passado, Till, A Saga de Um Herói Torto, que conta a história de um antiherói inspirado na tradição popular alemã. Agora, mais uma vez, inserem Curitiba em sua trajetória e trazem sua nova estreia à Mostra 2011.

* * *

Serviço:

Aos Que Vierem Depois de Nós.

Teatro Bom Jesus. Dias 8 e 10 de abril, às 21 horas.

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