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Todos os anos, jovens cantores líricos curitibanos chegam às finais dos principais concursos nacionais do gênero. Quando se olha para o curriculo dos participantes, há uma frase que se repete incansavelmente. "Aluno de Neyde Thomas" é a senha. Ter passado pelas mãos da mestra representa no mundo da música erudita o mesmo que ganhar um selo de qualidade, daqueles mais desejados. Significa que você foi testado pelo que há de melhor no ramo – e recebeu a aprovação.

Morando há 17 anos em Curitiba, Neyde Thomas recebe dos colegas de profissão os elogios mais altos e emocionados. "Somos abençoados por ter ela na cidade", resume o barítono Paulo Barato, um de seus inúmeros discípulos. Para alguns, ela é a principal responsável pela atual geração de cantores e cantoras que saem da cidade para despontar aqui, nos Estados Unidos e na Europa.

Mas de onde vem o moral da cantora? Um simples fato ajuda a responder a pergunta. Em 1961, quando ainda era uma iniciante, Neyde, acompanhada por seu marido, o também cantor Rio Novello, embarcaram para a Itália. Lá, ela participou do concurso Achile Peri. Conseguiu o primeiro lugar na categoria feminina. Entre os homens, quem recebeu a mesma honraria foi ninguém menos do que o italiano Luciano Pavarotti.

Depois de fazer uma carreira que incluiu apresentações nos principais teatros de ópera do mundo, como o Metropolitan de Nova Iorque, e dividir o palco com gente do gabarito de Placido Domingo, ela resolveu voltar ao Brasil em 1981 e se instalou em São Paulo. Oito anos depois, veio a Curitiba para ajudar a montar duas óperas no Guaíra. O casal gostou da cidade e decidiu ficar. Neyde passou a dar aulas e entrou para a Escola de Música e Belas Artes como professora de canto. Começava uma nova era do canto lírico na cidade.

Alunos

A cantora é hoje responsável pela orientação vocal de todo o coral da Camerata Antiqua de Curitiba, dá aulas para quase todos os novos talentos que o Guaíra tem revelado em suas óperas e ainda encontra tempo para ir a São Paulo, onde um grupo de pupilos espera por ela uma vez por mês. "Nem sempre foi natural para mim dar aulas. Tive de aprender também a fazer isso", diz, modesta, a professora.

Nos dois últimos anos, só para ficar em um exemplo, o principal concurso de canto do país deu prêmios para alunas de Neyde Thomas. Em 2004, o Bidu Sayão, realizado anualmente no Pará, escolheu a paranaense Luciana Melamed como grande vencedora entre as mulheres. Já em 2005, foi a vez de Phoenix Luz, de apenas 17 anos, ganhar o prêmio especial para jovens cantores.

O toque de midas da cantora acaba atraindo para a cidade gente dos mais diversos cantos do Brasil. É o caso de Lúcia Vasconcellos, de 25 anos. Estudante de canto no Recife, Lúcia conheceu Neyde Thomas em um evento em São Paulo. Decidiu vir para a cidade para ter aulas com ela durante a Oficina de Música de Curitiba, em 2004. Gostou tanto que acabou ficando. "Ela tem sido um suporte muito importante para o meu desenvolvimento como cantora", afirma ela, que acabou se radicando na cidade também por outro motivo: ela se casou com o pianista que acompanha a professora, Luiz Pfützenreuter.

Na Camerata Antiqua, a orientação vocal dada por Neyde Thomas também tem causado efeitos positivos, segundo os músicos. "Faz toda a diferença do mundo", afirma Paulo Barato, que está no coro da orquestra há 12 anos. Segundo ele, por mais que ela interfira pouco nos ensaios, às vezes uma única frase que ela diga muda o contexto do que estava sendo feito. "E tem outra coisa. Quando ela canta para mostrar o que quer que a gente faça, chega a dar raiva. Como ela consegue fazer aquela música difícil de cantar parecer simples daquele jeito?", comenta.

Ninguém sabe como ela consegue. Esse é justamente o ponto. Mas ela garante que seus alunos, aos poucos, vão conseguindo chegar cada vez mais perto de alcançar o mesmo resultado.

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