Pitty e a banda: para ela, música ganha mais sentido quando é “doída” e feita “à flor da pele”. Novo disco é lançado depois de uma pausa de quatro anos fora dos estúdios| Foto: Caroline Bitencourt/Divulgação

No topo e sem concorrentes

Guilherme Voitch é jornalista da Gazeta do Povo

Qual o grande nome do rock nacional hoje? Por mais que certa parte da mídia ainda torça o nariz, fica difícil tirar Pitty dessa posição e Chiaroscuro só mantém a baiana no topo. Ora, lembremos que as bandas dos anos 80 insistem em serem covers de si próprias. Os remanescentes da década de 90 ou acabaram ou então seguem um caminho de declínio – alguém ainda vê sentido no skate rock de Chorão?

O Los Hermanos dividiu-se e depois deles houve o quê? O silêncio. Não dá para levar a sério as bandas dos meninos de franjas que insistem num hardcore mal-tocado e infantil. Pitty tem uma história calcada na cena underground e isso faz toda diferença. Embora seja vista com certo deboche por parte dos alternativos, foram os porões que garantiram à cantora uma autenticidade que a diferencia daquilo que se produz na música pop brasileira.

Pitty se destaca, sem esforço, com Chiaroscuro. "8 ou 80" tem uma levada de Queens of The Stone Age e é difícil considerar isso ruim. "Me Adora" e "Fracasso" agradariam os independentes, não estivesse Pitty fora do meio. "Todos estão mudos" remete a Plebe Rude e Roberto Carlos e já é candidata a hit. Não dá para dizer que Pitty esteja fazendo algo revolucionário ou definitivo no rock brasileiro. Mas Chiaroscuro é criativo e competente. É quase uma vitória por WO. Mas Pitty não tem culpa disso. GGG

Serviço: Chiaroscuro. Pitty. Deckdisc. Preço médio: R$ 24,90.

CARREGANDO :)

As coisas estão aparentemente bem para Pitty. Ela acaba de lançar seu terceiro disco, Chiaroscuro. Está consolidada como uma das principais vozes do rock nacional e parece ter encontrado equilíbrio na vida amorosa – o namoro com o baterista do NX Zero, Daniel Weskler, segue firme e tranquilo, a julgar pela presença dos dois na festa de premiação do prêmio Multishow, na última terça-feira, no Rio de Janeiro.

Quem ouve as canções de Chiaroscuro, porém, tem outra percepção. Na mesma linha dos trabalhos anteriores, Admirável Chip Novo (2003) e Anacrônico (2005), Pitty fala sobre desilusões e angústia adolescente. "Eu, chorando, tão previsível quanto areia no deserto, mais patético sem ninguém por perto...", canta em "Água Contida".

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Mesmo quem não é fã, é tentado a procurar conexões entre a obra de Pitty e sua vida pessoal. E elas existem. A própria Pitty admite: "As letras podem não ser necessariamente autobiográficas, mas surgem, sempre do meu ponto de vista das coisas", diz a cantora.

É um discurso que não é novo. Mesmo na aparente calmaria, vários demônios podem nos rondar no cotidiano. "A vida é sempre boa e ruim ao mesmo tempo pra todo mundo. E eu sempre fui meio angustiada: eu sinto muito, sinto as coisas todo tempo."

Mesmo quando as coisas estão longe de serem uma bagunça completa? "Minha vida sempre é uma bagunça", responde Pitty.

Entender o trabalho da cantora, que completa 32 anos em outubro próximo, portanto, é cerrar fileiras contra o poeta fingidor. Para Pitty, não basta que o ouvinte sinta. O artista, para ela, está ligado de forma intrínseca à sua arte e sua dor. "Rendo mais quando estou nessa coisa à flor da pele. As músicas são mais literais e mais doídas. Como ouvinte, tenho predileção por quem produz assim também."

Ao que parece, a cantora conseguiu transportar essa sinceridade para Chiaroscuro. "Piramos demais nesse disco e deu certo. Estou muito feliz com o resultado. Eu ouço este disco e sei que fiz do jeito que eu queria."

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Chiaroscuro sai depois de quatro anos sem trabalhos autorais da cantora. Nesse tempo, porém, a banda não ficou parada. Passou em turnê a maior parte do tempo e lançou o CD/DVD {Des}Concerto: Ao Vivo. Pitty também gravou uma participação em "The Kill", da banda americana 30 Seconds to Mars . "Ao longo desse tempo sempre escrevi. Fiz alguns riffs. Mas não era nada muito certo, muito consolidado."

O álbum tomou corpo com a participação da banda toda, como costuma ser. "Eu chego com as letras e alguns arranjos, aí os meninos trabalham em cima e a gente dá uma cara para tudo isso."

A diferença, dessa vez, está no fato de que o disco foi todo gravado no Estúdio Cabo da Goiabeira – que, nada mais é, do que um espaço na casa do baterista Duda.

A produção é de Rafael Ramos, que mandou o registro para ser masterizado em Los Angeles pelas mãos do engenheiro Brian Gardner, que já trabalhou com figuras como David Bowie, Foo Fighters e Prince.

As colocações de Pitty sobre a percepção da alegria e da tristeza nos mesmos momentos aparecem, não por acaso, no nome da obra. ‘Chiaroscuro’ é uma palavra italiana para ‘claro/escuro’ e também uma das técnicas de pintura renascentista de Leonardo Da Vinci que aposta no contraste entre luz e sombra. A turnê do disco deve se iniciar em outubro e Pitty aposta numa passagem por Curitiba. "Estou com saudades de tocar aí. Queremos muito pisar no palco novamente."

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