O ministro da Cultura, Marcelo Calero, fez duras críticas a artistas brasileiros que se manifestaram no exterior para acusar de golpe o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. As declarações foram dadas em entrevista ao jornalista e colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno no programa “Preto no branco”, exibido ontem no Canal Brasil. O ministro também criticou a gestão de seu antecessor, Juca Ferreira, em relação à Lei Rouanet, e disse que estuda fazer ajustes nesse mecanismo. Sobre o protesto feito pelo cineasta Kleber Mendonça Filho e os artistas do filme “Aquarius” na última edição do festival de Cannes, ele disse:
“Eu acho muito ruim. Como qualquer manifestação, tem que ser respeitada, isso está fora de questionamento. Agora, acho ruim, em nome de um posicionamento político pessoal, causar prejuízos à reputação e à imagem do Brasil.”
Após um aparte de Moreno, ele prosseguiu.
“Estão comprometendo (a imagem do país) em nome de uma tese política, e isso é ruim. Eu acho até um pouco totalitário, porque você quer pretender que aquela sua visão específica realmente cobre a imagem de um país inteiro. Eu acho que a democracia precisa ser respeitada e acho que é um desrespeito falar em golpe de Estado com aqueles que viveram o golpe realmente, o de 64. Pessoas morreram. E as pessoas esquecem isso. Então eu acho de uma irresponsabilidade quase infantil...”
Ao discursar sobre a Lei Rouanet, Calero disse que ela precisa se tornar mais justa, transparente e eficiente.
Eu acho até um pouco totalitário [o protesto em Cannes], porque você quer pretender que aquela sua visão específica realmente cobre a imagem de um país inteiro. Eu acho que a democracia precisa ser respeitada e acho que é um desrespeito falar em golpe de Estado com aqueles que viveram o golpe realmente, o de 64. Pessoas morreram. E as pessoas esquecem isso. Então eu acho de uma irresponsabilidade quase infantil
“A gente está num processo agora de busca de ajustes. A gente não pode demonizar e satanizar a Lei Rouanet, e eu acho que a gestão anterior contribuiu inclusive para isso”, afirmou. “A gente não pode pegar um ou outro caso, de um musical que poderia ter conseguido, sem a Lei Rouanet, a sua viabilidade, e dizer que a lei é uma porcaria e jogar tudo na lata do lixo. Hoje, a Lei Rouanet patrocina orquestras Brasil afora, museus importantíssimos. Se não fosse a Rouanet, a Orquestra Sinfônica Brasileira não existiria.”
Moreno perguntou como ele pretende conciliar os conflitos em um “meio cultural dividido”.
“Consenso, a gente nunca consegue, mas a conciliação é um propósito”, respondeu o ministro.
Lei Rouanet
Na entrevista, ele falou, ainda, que pretende ampliar a Política Nacional de Cultura Viva, aproveitando a experiência dos programas Ações Locais e Territórios de Cultura, ambos implantados no Rio, e colocar os pagamentos em dia. Destacou a promessa feita pelo presidente interino Michel Temer de reconduzir o orçamento da Cultura ao patamar de 2015 e lembrou que, do total de isenções fiscais concedidas pela União, apenas 0,6% correspondem à Cultura:
“É muito pouco. Não justifica esse discurso do ódio contra a Lei Rouanet.”
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