| Foto: Bruno Veiga/ Divulgação
Os Espiões: encomenda pessoal

Entrevista com Luis Fernando Verissimo, escritor e cronista.

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O escritor Luis Fernando Verissimo autografa hoje à noite em Curitiba Os Espiões, o primeiro romance de sua carreira (ele já escreveu outros cinco) que não foi feito a partir de uma encomenda. "Este fui eu que me encomendei", afirma.

A obra coloca em cena um protagonista formado em Letras que trabalha em uma editora porque sonha vir a ser editado. Ele bebe muito e, ao seu redor, há uma constelação de personagens complexos. Um mistério vai desestruturar a rotina do personagem central.

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Verissimo consegue misturar mitologia grega com coloquialismo, mistério com humor, tudo costurado a partir de um texto envolvente, marca registrada deste gaúcho, que tem suas crônicas publicadas pela Gazeta do Povo, e que parece incapaz de escrever um texto ruim.

A seguir, a breve mas intensa entrevista exclusiva, realizada por e-mail.

A Editora Alfaguara divulgou que Os Espiões não foi encomendado antes: trata-se de uma demanda interna do senhor. Que demanda foi essa?

É. Todos os meus romances até agora tinham sido encomendados, na medida em que a ideia inicial era da editora. A série sobre os pecados capitais etc. Este fui eu que me encomendei.

Há quem diga que a primeira frase de um romance tem de sintetizar o livro ou pelo menos abrir janelas para a obra. Em Os Espiões, a primeira frase é: "Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer." O protagonista está na frase, como o centro da obra também está. Para o senhor, o que significa essa frase?

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Os mais velhos devem identificar a frase. É uma parafrase do "tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer", do Vicente Celestino.

O personagem central é um estudante de Letras que vai trabalhar em uma editora com o sonho de vir a ser publicado, algo comum na realidade. O senhor conhece muitas pessoas parecidas com o seu protagonista?

Não. Deve haver muita gente trabalhando em editora que sonha em ser editado, mas não me baseei em ninguém.

Os amigos do personagem central, o próprio chefe do personagem central, são muito críveis, verossímeis. Conhece gente assim?

Exatamente como eles não. Há traços de alguns tipos conhecidos nos personagens. Mas o professor Fortuna, por exemplo, não me parece muito verossímel.

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Ariadne foi reelaborada nessa prosa que usa o humor refinado para tratar de questões as mais sérias possíveis. Como o senhor consegue escrever tão bem?

Obrigado pelo elogio. A gente nunca acha que merece mas gosta de ouvi-los as­­sim mesmo. Sei fazer al­­gumas coisas, não sei fazer outras e não pretendo ser muito mais do que isto. Mas obrigado.

O senhor consegue escrever mal? Já conseguiu produzir um texto ruim?

Já escrevi muita porcaria. Por isso tomei uma decisão: nunca reler o que escrevi. Inclusive para não ser mal influenciado.

No seu romance, há uma discussão sobre o conflito de quem mora na capital versus o pessoal do interior. Isso é uma constante no Brasil. Qual a sua opinião a respeito?

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Frondosa (a cidade do interior no romance) representa algumas cidades do interior, mas é mais uma caricatura do que um retrato fiel. No fim, o interior derrota a capital, os sofisticados portoalegrenses são arrasados pelo interior.

Serviço

Lançamento de Os Espiões, de Luis Fernando Verissimo. Editora Alfaguara, 144 págs., R$ 31,90. Hoje, às 19h30, na Livrarias Curitiba Megastore do Shopping Palladium (Av. Pres. Kennedy, 4.121, loja 2.047, piso L2). A entrada é franca, mas é preciso retirar senhas, que já estão sendo distribuídas nas oito lojas da rede na capital paranaense. Mais informações pelo telefone: (41) 3330-6749.