A psiquiatria e a própria arte (por que não?) brasileira tem em Nise da Silveira (1905-1999) um ponto de virada. Já na metade do século 20, a psiquiatra discordava do uso de eletrochoques, lobotomia e outros métodos muito praticados nos chamados manicômios. Mas discordar, para Nise, era pouco. Em 1946, propôs uma alternativa: serviço de terapia ocupacional. Assim, ao invés de receber uma descarga elétrica, o paciente colocava a mão na massa: de jardinagem a sapataria, 17 atividades como opção mas pintura, modelagem e xilogravura caíram no gosto de quem estava em tratamento.
Essas realizações artísticas, como milagre, se reproduziram, tanto que em 1952 se fez mais do que necessário criar o Museu de Imagens do Inconsciente (RJ) hoje com 350 mil obras no acervo, 127 mil delas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Trezentas dessas obras entram em cartaz no Museu Oscar Niemeyer (MON) neste sábado (25) e seguem em exibição até 1º de março do ano que vem, dentro da exposição Nise da Silveira Caminhos de Uma Psiquiatra Rebelde.
O curador da exposição, diretor do Museu de Imagens do Inconsciente, Luiz Carlos Mello, explica que esse material que o público curitibano terá acesso mescla ciência e arte (e vice-versa). "Afinal, são realizações artísticas que revelam o que se passa no imaginário das pessoas, e a Nise estudou o que essas produções poderiam irradiar, significar enfim", afirma Mello. Deixando a conceituação de lado, o público poderá contemplar, refletir e analisar trabalhos de autoria de oito pacientes que freqüentaram os ateliês da Seção de Terapêutica Ocupacional, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro local hoje rebatizado de Instituto Municipal Nise da Silveira.
Nise chegou a trocar figurinhas e cartas com Carl Gustav Jung, um dos mais relevantes discípulos de Sigmund Freud (o Pai da Psicanálise) e foi Jung quem incentivou Nise a exibir publicamente as obras de pacientes (material exposto inicialmente no 2º Congresso Internacional de Psiquiatria de 1957, em Zurique, Suíça). Aos curitibanos, a exposição de alguns desses trabalhos insinua-se como (não poderia deixar de ser) um enigma: "decifra-me ou te devoro".
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