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Ficha da prisão de Sônia Hadad Hernandes, divulgada pela polícia de Palm Beach, nos EUA | Divulgação/Polícia de Plam Beach
Ficha da prisão de Sônia Hadad Hernandes, divulgada pela polícia de Palm Beach, nos EUA| Foto: Divulgação/Polícia de Plam Beach

A batalha de Iwo Jima leva o nome de uma pequena ilha do Pacífico, pouco maior que 18 campos de futebol. Entre 19 de fevereiro e 26 de março de 1945, lá combateram cem mil homens. Cerca de 20 mil japoneses escondidos em 25 quilômetros de túneis e 1,5 mil cavernas enfrentaram um exército quatro vezes maior. Morreram quase todos. Entre os 80 mil soldados norte-americanos, houve 25 mil baixas em 36 dias de luta, incluindo sete mil óbitos. O embate rendeu 27 medalhas de honra para os fuzileiros navais dos Estados Unidos, um terço do total concedido durante todos os seis anos da Segunda Guerra Mundial.

John Henry Bradley sequer havia ganho uma medalha, mas apenas uma cruz naval, reconhecimento ao resgate heróico de um colega em Iwo Jima. Escondeu a honraria em uma caixa de papelão até morrer em 1994. Nunca mostrou a cruz para a sua mulher ou filhos, e jamais concedia entrevistas ou falava sobre o assunto. Seu silêncio era um fardo pesado. Foi o único que se aproximou de uma vida de normalidade depois de aparecer com mais cinco soldados na fotografia que se tornou um ícone americano da Segunda Guerra Mundial.

Bradley participou do hasteamento de uma bandeira dos Estados Unidos no topo dos 165 metros de altura do monte vulcânico de Suribachi, o lugar mais alto de Iwo Jima. Uma fotografia eternizou o momento e transformou todos que nela apareciam em fantasmas. Não é de se estranhar que Clint Eastwood tenha adaptado essa história para o cinema, em A Conquista da Honra, que estréia hoje nos cinemas.

Nos filmes de Eastwood, o personagem principal é ou se transforma em fantasma. No caso de Menina de Ouro, Crime Verdadeiro, e Os Imperdoáveis, por exemplo, a morte rouba para sempre a alma de quem a permite, e altera sua existência em um vagar solitário, eterno e fantasmagórico. Esses personagens são quase sempre variantes de mitos, o mito da persona de Clint Eastwood no cinema, e mais do que isso, o mito do homem americano, do cavaleiro solitário.

O pressuposto de A Conquista da Honra é a mitologia que cerca a fatídica fotografia tirada em Iwo Jima. Seus personagens foram celebrados como heróis por um ato que, em si, é desprovido de heroísmo. A história foi resgatada pelo filho de John Bradley, James Bradley, no livro que dá o título ao filme e foi adaptada por Paul Haggis (Menina de Ouro e Crash) e William Broyles Jr. (Planeta dos Macacos) em roteiro.

A narrativa não-linear compila a trama histórica e a experiência do autor do livro. A direção de Clint Eastwood parte da tradição do cinema americano ao recriar a técnica e a "transparência" narrativa associada ao que hoje é conhecido como cinema clássico. No entanto, talvez mais interessante que filiar A Conquista da Honra àquilo que há de mais tradicional no cinema americano é reparar naquilo que beira o experimental. O uso de luz e sombra, assim como em Menina de Ouro, não tem parâmetros exatos no cinema americano atual nem em suas referências clássicas. Uma câmera na mão que se aproxima de uma perosnagem e perde o foco talvez encontre mais ressonância no cinema de vanguarda.

A direção de fotografia de Tom Stern é fundamental nesse contexto, ao utilizar a escuridão e potencializar a dramaturgia, como no rápido desligar de uma lanterna dentro de uma caverna. Também há um mundo de subtextos, que trazem à tona um filme político. A angústia do personagem índio-americano Ira Hayes, em particular, assim como a de todos os outros, levam à confrontação entre a história e os mitos – como nos John Ford tardios. GGGGG

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