Quem fizer um passeio pelos parques e praças de Curitiba certamente notará o legado da colonização européia e asiática. Bosque Alemão, Memorial Ucraniano, Praça do Japão, entre outros espaços que honram esse passado. Há até quem sinta um "charme europeu" ao percorrer as ruas centrais. Mas, Curitiba, como qualquer outra cidade, também tem os seus invisíveis.
É o caso dos 23% de moradores negros ou pardos autodeclarados que vivem aqui. Eles vêm tentando mostrar a cara, seja na política ou nas artes. Além do fato dos afro-descendentes terem sido assunto do documentário "Preto no Branco Negros em Curitiba", que mostra algumas histórias de negros, relatos de preconceito, e declarações de gente que não se vê na imagem oficial da cidade, o sistema de cotas da Universidade Federal do Paraná esquenta os debates e deixa de lado a própria memória da cultura afro-brasileira.
É, portanto, muito oportuna a vinda Emanoel Araújo e da exposição "Negras Memórias Memórias de Negros para Curitiba". Artista plástico e ex-diretor da Pinacoteca do estado de São Paulo, Araújo, além de qualquer debate político, dedica-se à preservação da cultura africana há mais de 20 anos. Trabalhou para a causa fazendo arte e colecionando pinturas, esculturas, vídeos, fotografias, livros, vídeos e documentos, de artistas e autores brasileiros e estrangeiros relacionados à cultura negra. O trabalho culminou em séries de exposições, como "A Mão Afro-Brasileira", "Bahia África Bahia", "Vozes da Diáspora", "Arte e religiosidade Afro-brasileira". Desde o ano passado, Araújo também é curador do Museu Afro-Brasil, em São Paulo. Cedeu 1.100 itens de sua coleção particular de cinco mil peças para a instituição.
Cerca de 500 itens desses acervos compõem a exposição Negras Memórias Memórias de Negros, que abre nesta terça-feira (20), às 19 horas, no Museu Oscar Niemeyer.
A mostra cobre quatro séculos de presença da cultura negra no Brasil, abrangendo desde recibos de compra de escravos e anúncios de recompensa para o resgate de negros fugitivos, até trabalhos de Aleijadinho, Rubem Valentim, Ronaldo Rêgo, Mestre Didi, e Mestre Valentim. Artistas radicados no Paraná também foram incluídos. É o caso dos fotógrafos Orlando Azevedo, Fernanda Castro, dos artistas plásticos Cristina Mendes e Washington Silveira, e dos escultores Expedito, Lafayete Rocha e Verger.
Sob o Olhar de Djanira
De um outro ângulo, o Brasil é tema da obra de Djanira da Motta e Silva (1914-1979). A artista plástica é homenageada na exposição "A arte sob olhar de Djanira Coleção Museu Nacional de Belas Artes", que também abre nesta terça-feira, às 19 horas, no Museu Oscar Niemeyer. Com curadoria de Pedro Martins Caldas Xexéo e Laura Maria Neves de Abreu, a mostra reúne cerca de 80 obras da artista.
A seleção de obras expostas percorre desenhos, gravuras e pinturas. Em alguns casos, a curadoria procurou não apenas apresentar o trabalho pronto, mas mostrar o processo de criação.
Nascida em 1914, em Avaré, interior do estado de São Paulo, Djanira iniciou seus trabalhos no final dos anos 30, recebendo influências de Emeric Marcier. Viajou para os Estados Unidos onde conheceu Marc Chagall, Juan Miró, e Fernand Léger. Ao retornar, deixou a sua arte "surrealista romântica" para dedicar-se ao Brasil. Fez várias viagens pelo interior, conhecendo os costumes e movimentos folclóricos do povo, enriquecendo sua temática e exploração de cores, composição e formas.
Confira o roteiro de exposições
Serviço:
"Negras memórias Memórias de Negros" e "A arte sob olhar de Djanira Coleção Museu Nacional de Belas Artes". Até abril de 2006. Abertura nesta terça-feira (20) a partir das 19 horas (para convidados). Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), Tel.: 3350-4400. Mais informações no site www.museuoscarniemeyer.org.br.
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