| Foto: Reprodução

Não é segredo que o jornalista Fernando Morais é simpático e entusiasta do governo do ditador Fidel Castro. Em entrevistas so­­bre o seu último livro, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, lançado no fim de agosto, Morais se define como um "dinossauro comunista". Criticado por muitos por ter sido panfletário e defender o regime cubano em A Ilha (1976), livro que se converteu em um ícone entre a esquerda brasileira, a reportagem em sua última obra está longe de ter um tom defensor. Muito pelo contrário: predomina a tão buscada imparcialidade jornalística.

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O livro narra a história da Rede Vespa, criada por Cuba no início da década de 1990. Formada por um grupo de 12 homens e duas mulheres, o grupo espião tinha a missão de se infiltrar e vigiar alguns dos mais de 40 grupos anticastristas. O motivo das operações era a de evitar ataques terroristas ao território cubano. Após a queda da União Soviética, em 1991, Cuba buscou o turismo como principal atividade econômica e os grupos anticastristas, então, passaram a praticar atos terroristas contra os melhores hotéis de Havana. Em cinco anos, foram 127 ataques. Além disso, as organizações invadiam constantemente o espaço aéreo do país, destruindo safras de cana-de-açúcar e, com voos rasantes, jogavam panfletos para que os cubanos deixassem o país.

Fugas forjadas

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Para que as fugas forjadas pela Rede Vespa não levantassem suspeitas dos Estados Unidos, pelo menos no início das missões, era necessário que elas fossem mi­­nuciosamente planejadas, e tivessem um quê de cinematográficas. A primeira história contada no livro do suposto desertor que deixa Cuba é a de René González. Cidadão americano, mas que foi criado no país latino-americano, era considerado um "soldado leal". Piloto de avião, sequestrou uma aeronave em uma breve distração de um colega e seguiu rumo à costa norte-americana, anunciando via rádio que estava desertando e que precisava realizar um pouso o quanto antes, já que seu combustível estava no limite. Recebido como um herói em Miami, ele dizia que havia fugido porque "em Cuba, falta até batata e arroz". Os familiares e a esposa, desolados, não acreditavam em tamanha traição de René.

Com um jornalismo de primeira qualidade, já familiar para leitores de Morais, e com investigação minuciosa (o escritor se interessou pela história desde a prisão dos integrantes da Rede Vespa, em 1998, mas iniciou entrevistas e pesquisas em Cuba em 2008), o livro tem seu ponto mais interessante na maneira com que ele confere estilo ao tom da espionagem. Parece, logo no início, por exemplo, que aquelas pessoas eram de fato fugitivas, e não infiltrados, o que envolve o leitor nas descobertas ao longo da obra. GGGG

Serviço:

Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais. Companhia das Letras, 416 págs. R$ 42. Reportagem.

O autor estará em Curitiba na próxima quarta-feira (28), para bate-papo e sessão de autógrafos às 19h30 na Livrarias Curitiba do Shopping Palladium (Av. Pres. Kennedy, 4121).

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