A atriz, cantora e diretora Marília Pêra morreu neste sábado (5), no Rio de Janeiro aos 72 anos, informou o canal Globonews. De acordo com o comunicado divulgado pela Globo, Marília lutava contra um câncer há 2 anos e morreu em casa, ao lado da família. Ela deixa os filhos Ricardo Graça Mello, Esperança Motta e Nina Morena e o marido Bruno Faria. Ela se tratou recentemente de um desgaste ósseo na região lombar, que a fez se afastar do trabalho por um ano. A imprensa noticiou que Marília estava com câncer e pesando 40 kg, mas a informação acabou sendo negada pela família.
GALERIA: Relembre momentos da carreira de Marília Pêra
Marília começou a atuar aos 4 anos e participou de 50 peças, quase 30 filmes e cerca de 40 novelas, minisséries e programas de televisão. Atualmente, ela estava no ar com a quarta temporada de “Pé na Cova”, da Globo. Todos os episódios da atual temporada e da próxima, prevista para ser exibida em 2016, já estão gravados. Ela também dirigia um espetáculo teatral sobre a atriz americana Marilyn Monroe, interpretada por Danielle Winits. Também estava envolvida no projeto de um novo CD, pela Biscoito Fino, com repertório de canções de Tom Jobim, Johnny Alf, Dolores Duran e de Kurt Weill.
O criador da série, Miguel Falabella, preparava uma nova série que teria Marília Pêra como protagonista. Em “Negócios da Família”, a atriz interpretaria a mulher de um político corrupto que perde todas as mordomias e se transforma em uma viúva negra que mata milionários para ficar com suas fortunas.
A colunista Hildegard Angel havia divulgado que Marília passava por um câncer de pulmão em estágio avançado. “Foi por volta da Páscoa que Marília me falou, sem rodeios, que estava com câncer, quando almoçamos lado a lado no aniversário do advogado Roberto Halbouti, na pérgula do Copacabana Palace”, escreveu a jornalista, na começo do mês de novembro. Apesar disso, a informação foi negada pela família de atriz, que disse que Marília se encontrava afastada porque continuava tratando do problema que teve no fêmur. O autor da série Pé na Cova, Miguel Falabella postou foto em seu Instagram na qual aparece em cena orando ao lado da veterana. “Não desista de nós! Por favor! Não desista de nós!”, escreveu Falabella.
Homenagens
O ator Stepan Nercessian lamentou a morte da colega à Gazeta do Povo. “Ela deixa um grande legado para a arte do Brasil. Foi uma artista de um talento extraordinário, se expressava como ninguém uma artista completa”, falou. “Tudo que ela fazia era com um olhar de iniciante, de curiosidade, se doava por completa”, afirmou. Em 1972, os dois contracenaram juntos em “Bandeira 2”, novela de Dias Gomes, entre outros trabalhos juntos.
O cineasta Fernando Severo e diretor do Museu de Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR) faz coro à Stepan. “Era a mais completa atriz brasileira, atuava, cantava e dançava com igual talento. Seu trabalho na TV marcou minha adolescência. No cinema teve desempenhos magistrais, como no filme “Pixote”, que lhe valeu o prêmio de melhor atriz concedido pelos críticos norte-americanos”, relembrou.
Em velório, amigos lembram luta de Marília contra o câncer
Amigos e parentes se despediram da atriz Marília Pêra neste sábado (5), no Teatro Leblon, na zona sul do Rio. Arlete Salles foi uma das primeiras a chegar ao local. Ela contracenou com Pêra em “Lua Cheia de Amor” novela das 19h da Globo exibida entre 1990 e 1991.
Arlete, 73, também chegou a enfrentar um câncer, doença contra a qual Marília Pêra lutou nos dois últimos anos de vida. A atriz conta que, durante o período de seu tratamento, recebeu apoio da amiga Marília, que costumava repetir: “O palco salva tudo”.
Herson Capri, 64, mencionou o esforço de Marília para continuar trabalhando, apesar dos problemas de saúde. “Ela já sabia da doença há dois anos. E pelo amor e carinho enorme pelo público, continuou a trabalhar o quanto pôde”, elogiou Capri, que esteve ao lado de Marília na novela das 19h “Cobras e Lagartos” (2006).
Outra atriz presente no velório foi Cássia Kis Magro, 57, que falou sobre o talento de Marília. As duas fizeram parte do elenco de “Brega & Chique” (1987). “A dor, a gente resolve. Agora temos de agradecer à linhagem rara e ao sangue azul que tivemos no palco. Ela deu conta do recado como ninguém. Era uma dama com ‘d’ maiúsculo”, elogiou Cássia.
“Era uma referência. Sofreu, mas agora descansou. Nossa função agora é aplaudir”, acrescentou a atriz Claudia Jimenez, que esteve ao lado de Marília na série “A Vida Alheia”, criada por Miguel Falabella e exibida na Globo em 2010.
O enterro de Marília Pêra está previsto para às 17h deste sábado no cemitério São João Batista, em Botafogo.
Elmo Francfort, pesquisador e coordenador do Centro de Memória Pró-TV / Museu da Televisão, declarou que Marília Pêra foi uma grande atriz. “Sua partida será uma grande ausência para nossas artes. Carmem Miranda, Rosinha do Sobrado, Rafaela Alvaray e tantos outros papéis a eternizarão para sempre na memória de todos nós”, afirmou.
José de Abreu também comentou a morte da atriz nas redes sociais. “ Marília Pêra. Saudades”. A roteirista e blogueira curitibana Bic Muller fez uma homenagem em seu perfil no Facebook. “Muito muito triste pela morte da Marília Pêra. Mas me deixou com o coração quentinho ver tanta gente prestando homenagens a essa grande atriz. Marília foi uma unanimidade. Que o céu a receba com esse mesmo amor e carinho no palco do andar de cima”, escreveu.
Pelo Twitter, outros artistas também publicaram suas manifestações de carinho e tristeza. Em sua página no Facebook, Xuxa postou um vídeo em que as duas aparecem vestidas de noviças para o especial de Natal da Globo de 2008.
No Carnaval deste ano, Pêra foi a homenageada da escola de samba Mocidade Alegre, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. A Mocidade abordou a trajetória e a vida da estrela nacional com o samba: “Nos palcos da vida, uma vida no palco Marília!”. As alas da escola contaram a história desde o nascimento da atriz e a sua dedicação ao balé até a carreira no rádio, passando pelas suas interpretações marcantes.
Papéis marcantes
No cinema, Marília Pêra destacou-se em “Pixote, a lei do mais fraco” (1980), de Hector Babenco; “Bar Esperança” (1983); de Hugo Carvana; “Anjos da noite” (1986), de Wilson Barros; “Dias melhores virão” (1988) e “Tieta do agreste” (1995), de Cacá Diegues; “Central do Brasil” (1996), de Walter Salles; e “O viajante” (1998), de Paulo César Saraceni.
Na televisão, passou pelas emissoras Globo, Tupi, Manchete e Bandeirantes. Na Tupi, participou do elenco de “Beto Rockefeller” (1968), novela com linguagem revolucionária para a época.
Teve longa história na TV Globo. Participou do elenco que inaugurou a emissora em 1965 e em agosto do mesmo ano interpretou Rosinha na novela “Rosinha do Sobrado”, uma das primeiras da emissora. No mesmo interpretou a Carolina de “A Moreninha” (1965). Foi a personagem Shirley Sexy em “O Cafona” (1971). Em 1985, Marília chegou a ser cotada para o papel de Viúva Porcina em “Roque Santeiro”, mas o personagem acabou ficando com Regina Duarte.
Entre os papéis mais marcantes de Marília na TV estão a divertida Rafaela Alvaray de “Brega & Chique” (1987). Ela contracenou com Marco Nanini e Gloria Menezes. E na minissérie “O Primo Basílio”, exibida no ano seguinte, na qual interpretou a vilã Juliana. Em “Os Maias”, adaptação de Maria Adelaide Amaral em 2001, ela viveu Maria Monforte, personagem que não existia no romance original.
Em 2006 interpretou a falida, ambiciosa e divertida Milú de “Cobras & Lagartos”, escrita por João Emanuel Carneiro. Ao Memória Globo, ela elogiou bastante o autor de “Cobras & Lagartos”. “Como escreve o João Emanuel Carneiro! Eu tinha alguns monólogos dificílimos de serem decorados, e eu precisava decorar mesmo, como se fosse Shakespeare, porque o João Emanuel é um homem muito culto.”
Um dado curioso: apesar da carreira de sucesso foi só em 2007 que a atriz fez sua primeira novela completa do horário das 21h, como a Gioconda, em “Duas Caras”, novela de Aguinaldo Silva. Até então, ela só havia feito “O Cafona” e “Bandeira 2”, exibidas às 22h, nos anos 70. Depois disso, ela teve apenas participações pequenas - como ela mesma - em “Rainha da Sucata” (1990) e “Celebridade” (2003).
Antes de “Pé na cova”, a amizade com Miguel Falabella já havia rendido papéis no seriado “A vida alheia” (2010), no filme “Polaroides urbanos” (2008) e na novela “Aquele beijo” (2011), todos escritos por ele. “Miguel sempre fantasia que eu posso fazer ricas”, contou a atriz ao Memória Globo.
Dama do teatro
No teatro, ganhou duas vezes o Prêmio Molière: em 1974, por “Apareceu a Margarida”, e em 1984, por “Brincando em cima daquilo”. Como diretora, esteve por trás de uma das peças de maior sucesso do país, “Irma Vap”, que ficou em cartaz por mais de dez anos, com Marco Nanini e Ney Latorraca como protagonistas.
“O teatro é a minha vida. Nem lembro se houve um ano em que eu não tivesse feito teatro. É como se fosse a minha casa.”
Algumas das principais peças de sua carreira foram “Roda Viva” (1968), de Chico Buarque, “Se Correr o Bicho Pega” (1966), de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, “Onde Canta o Sabiá” (1966), de Gastão Tojero, “A Ópera dos Três Vinténs” (1964), de Bertold Brecht e Kurt Weill e “A Megera Domada” (1967), de William Shakespeare. Ganhou diversos prêmios ao longo da carreira, como o da APCT (Associação Paulista de Críticos Teatrais), o Mambembe e o Moliére. Este último venceu três vezes. A primeira foi em 1969, por “Fala Baixo Senão eu Grito”, que também produziu. A segunda, em 1974, por sua atuação em “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde, e a terceira, em 1984, por “Brincando em Cima Daquilo”, de Dario Fo.
Ao longo da carreira, interpretou mulheres como Carmen Miranda (1909-1955), a cantora lírica Maria Callas (1923-1977) e Coco Chanel (1883-1971).
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