O Brasil perdeu na manhã desta quinta-feira(9)Cyro Pereira, um dos últimos representantes da escola de maestros italianos, como Gabriel Migliori e Lyrio Panicalli. Cyro completaria 82 anos em agosto. Seu corpo será velado a partir das 19 horas de hoje no Salão dos Atos, no Memorial da América Latina, em São Paulo, e será cremado amanhã, às 11 horas, na Vila Alpina, em cerimônia restrita a amigos e familiares. "Graças a Deus ele nos deixou uma grande obra. Faremos o possível para divulgar todo o material que temos em casa", disse a filha Luciana de Souza Pereira.
Cyro foi um dos criadores da Jazz Sinfônica, onde também foi maestro. Trabalhou com Migliori em trilhas sonoras como a do filme "O Cangaceiro" (apesar de não aparecer nos créditos) e viveu intensamente a música na era do rádio e, depois, com o advento da televisão, em festivais. Na Record, era quem comandava a orquestra durante os festivais que revelaram Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos e Jair Rodrigues. Também atuou no programa "O Fino da Bossa", com Elis Regina e Jair Rodrigues.
"Pessoas como ele praticamente não morrem. Elas simplesmente passam para um outro plano de vida, outras dimensões. E o que elas deixam aqui é muito maior, até maior do que quando estava presente. Agora a gente vai ter contato com coisas que ele fez que são maravilhosas. Essas pessoas são imortais", disse o amigo e também maestro Edmundo Villani Cortes, 80 anos.
Entre os músicos corre a história da incrível dedicação do maestro para compor. Como cresceu naquele ambiente em ebulição do rádio e da televisão, gostava de deixar os dois aparelhos ligados enquanto estava compondo em casa, e só comia quando a esposa insistia muito. Criava de forma compulsiva, sempre com um cigarro na mão, até em tempos contemporâneos, quando uma placa informava: "Proibido Fumar".
Obra
Cyro deixou um único disco: "Cyro Pereira - 50 anos de música", de 1997, reeditado dez anos depois. O trompetista Nahor Gomes, da Jazz Sinfônica e da Banda Mantiqueira, participou da gravação do disco. Ele conviveu com o maestro por cerca de 20 anos. "Foi uma honra e um privilégio ter convivido com ele. Tive a oportunidade de conhecer muito de sua música... os arranjos, composições, de ter gravado a peça 'Rapsódia Latina', que está nesse disco, como primeiro trompete. Foi o único disco que ele gravou até por incentivo muito forte do Junior Galante e do Nelson Aires".
Segundo Gomes, Cyro fez arranjos belíssimos para a Jazz Sinfônica e imprimia sua identidade nos medleys (poutpourris), que deveriam ser eternizados em disco. "A Jazz Sinfônica deveria gravar um material de medleys que ele fez do Dorival Caymmi, do Jobim e de uma infinidade de compositores. Porque ele deixava a marca dele, com uma visão cinematográfica. A orquestra dobrava de tamanho com ele", avalia.
Cyro e Villani Cortes participaram da transição da música do rádio para a TV. Sem play back, era a orquestra que comandava as atrações, acompanhavam cantores, em transmissões ao vivo. "Os tempos eram muito diferentes. A música estava em primeiro plano. Havia muita música ao vivo, muitas emissoras de rádio, antes da televisão, e todas tinham orquestras, com apresentações ao vivo, com cantores, apresentadores e maestros. Era um movimento de música muito grande, muito forte, muito vivo e presente", disse Villani Cortes.
A tradição continuou por um curto período na TV. Ele lembra que, quando entrou para a TV Tupi, havia seis copistas contratados só para copiar partituras e tirar as partes para os músicos. "Havia também na Tupi e na Record vários maestros, porque tudo era feito assim, no presente, não havia música eletrônica, nem play back. Não dava para o cantor dublar. Era para valer", lembra.
"No tempo que trabalhei na Tupi, o Cyro trabalhava na Record, naquela tempo dos festivais da Elis Regina, Jair Rodrigues, Roberto Carlos e Chico Buarque de Holanda. Naquela música do Chico 'estava à toa na vida e meu amor me chamou...', a música 'A Banda', eu que estava no piano. Eu não era da Record, mas fui contratado para tocar no festival", acrescentou.
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