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Mais de 300 nomes aparecem na dedicatória de Onde Foi que Vocês Enterraram Nossos Mortos? (Travessa dos Editores, 368 págs., R$ 30). Todos "desapareceram" durante a ditadura militar. Da impossibilidade de descobrir o paradeiro dessas centenas de pessoas, o jornalista Aluízio Palmar fez muito para saber o que teria acontecido com um grupo de cinco homens, militantes insatisfeitos com o jugo ditatorial no Brasil, liderados por Onofre Pinto e refugiados no exterior.

A abertura do livro, a ser lançado em Curitiba no próximo dia 9, é contundente: "Eles foram atraídos pelo ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Alberi Vieira dos Santos, para uma emboscada armada dentro do Parque Nacional do Iguaçu". Segundo Palmar, Vieira dos Santos agiu como um agente duplo, viajando pela América Latina e atraindo os brasileiros de volta ao país com promessas revolucionárias. Na verdade, a idéia era matar Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavéchia, Víctor Carlos Ramos e Ernesto Ruggia. O que, a partir de documentos e testemunhas reunidos pelo autor, aconteceu no dia 12 de junho de 1974.

Abordado pelo ex-sargento, Palmar teve o pressentimento de que algo não estava certo. Não pensou duas vezes para escapar. Viveu na clandestinidade por sete anos, trocando de nome e de país ao ponto de afetar memórias e a própria identidade. De volta do exílio em 1979, estabeleceu-se no Paraná e imediatamente procurou saber o que teria acontecido com seus companheiros. Assim se deparou com o que chama de "um dos mistérios mais bem guardados do período ditatorial".

Convencido de que os homens desaparecidos foram assassinados, deu início a uma busca que beirou a obsessão. Durante mais de 30 anos, vasculhou arquivos, reuniu documentos, contatou testemunhas e recebeu inúmeras ameaças de morte. "Às vezes, penso que essa idéia fixa era movida pela curiosidade de saber como teria sido minha morte, caso eu tivesse aceitado o convite do ex-sargento Alberi Vieira dos Santos para me integrar àquele grupo", diz.

Em entrevista ao Caderno G, realizada na tarde da quinta-feira passada, o jornalista disse que o processo de pesquisa era um projeto pessoal que só se transformaria em livro no inverno do ano passado. Abordado pelo editor Fábio Campana, para quem a obra é "fundamental para a reconstituição da história dos movimentos armados no país durante o regime militar", organizou seus cadernos de anotação, fotos e e-mails, e os transformou em narrativa.

A grande fonte de Palmar é Otávio de Camargo, nome fictício do motorista que levou as vítimas até o local onde foram executadas "a sangue frio com armas curtas". A ambição do autor é reacender a discussão sobre desaparecidos políticos, mobilizar familiares e sensibilizar a sociedade.

Em sua trajetória, Palmar relata a extinção da Vaguarda Popular Revolucionária (VPR) e o nascimento do primeiro Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que simbolizam o começo e o fim da resistência armada durante os anos de chumbo.

Ao falar sobre a possibilidade de os corpos terem sido enterrados em uma das cidades submersas pela criação do lago Itaipu, retrata também a luta por indenizações justas dos agricultores que teriam seus terrenos desapropriados pela hidrelétrica. Um episódio da ditadura intrinsecamente ligado ao Paraná.

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