Não só a música portuguesa não é muito conhecida no Brasil, como também uma série de artistas que mexem com alguma tradição dos vossos variadíssimos estados também não são muito divulgados| Foto: Mário Pires/Divulgação

Serviço

Terra Pura

Com Luis Rei. Todas as quintas-feiras na e-Paraná FM, às 21 horas.

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Em 1995, já estava um pouco saturado de guitarras e comecei a interessar-me pela música folk de origem celta e europeia. Foi aí que o Terra Pura começou.

Todas as quintas-feiras, às 21 horas, a rádio e-Paraná (antiga Educativa), dá aos seus ouvintes a oportunidade de viajar até Portugal por meio da música. O programa Terra Pura, criado em 1995 pelo jornalista e pesquisador musical lusitano Luis Rei, explora as diversas vertentes da música portuguesa contemporânea. Em sua versão original, que vai ao ar a partir de Lisboa, o radialista também contempla a folk music europeia e de outros continentes. Em entrevista à Gazeta do Povo, por e-mail, de Lisboa, Rei conta um pouco de sua história. Leia a seguir trechos da conversa.

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Como surgiu a ideia de criar o programa?

O Terra Pura surgiu em 1995 com o interesse crescente em conhecer novas músicas, sonoridades e instrumentos de todo o mundo, derivado de um certo cansaço do universo pop rock anglo-saxão independente. Aí comecei a divulgar música de caráter tradicional de todo o mundo com arranjos contemporâneos: da música klezmer dos Klezmatics, ao afrobeat do Fela Kuti; do forró pé-de-calçada do Mestre Ambrósio ao mangue beat do Chico Science; do folk rock subversivo nórdico dos Hedningarna ao jazz inuit da norueguesa Mari Boine.

Conte um pouco de sua história pessoal com a música.

Desde a minha adolescência que me interesso por música. Com 12 ou 13 anos ouvia muito rádio. Passava horas a gravar cassetes de programas de autor que divulgavam funk, soul, disco. Nessa altura ouvia os primeiros discos de Madonna, Michael Jackson (Thriller), Indeep (Last Night a DJ Saved My Life), o início do hip-hop nova-iorquino do Bronx. Três ou quatro anos mais tarde comecei a me interessar pelo pop rock mais independente – The Cure, Siouxsie and Banshees, New Order, Joy Division, Bauhaus, Nick Cave – e fiz os meus primeiros programas numa rádio pirata, entre 1986 e1987. A essa altura, também comecei a trabalhar numa loja de discos em Lisboa, a Bimotor, que importava muitos desses artistas indie de Londres. Foi uma enorme escola. Em 1995, já estava um pouco saturado de guitarras e comecei a interessar-me pela música folk de origem celta e europeia. Foi aí que o Terra Pura começou.

A música popular portuguesa contemporânea é pouco conhecida no Brasil. Por que isso ocorre, em sua opinião?

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Não conhecendo bem a vossa realidade, apenas posso especular tendo em linha de conta o que vou ouvindo de alguns dos vossos artistas que vão passando por Portugal ao longo do tempo. Quase todos eles se queixam de que a maior parte das rádios brasileiras só passa um determinado tipo de música: sertaneja. Penso que não só a música portuguesa não é muito conhecida no Brasil, como também uma série de artistas que mexem com alguma tradição dos vossos variadíssimos estados também não são muito divulgados.

Qual o seu critério de escolha do repertório para o programa?

O Terra Pura divulga folk europeu, música de tradição portuguesa e lusófona e música do resto do mundo (de África a Ásia e ao Pacífico Sul). Mas a e-Paraná apenas passa uma de três horas que produzo semanalmente e que diz respeito à música de expressão portuguesa. Neste caso, a emissão é sobretudo de entrevista com artista que considero interessante e que acabou de lançar um novo disco. Não tem necessariamente de ser português. Já por ali passaram artistas galegos (Uxia, Mercedes Peon), cabo-verdianos (Mário Lúcio, Neuza, Zé Luis, Carmen Souza, Nancy Vieira), angolanos (Waldemar Bastos, Bonga) e brasileiros, como Tulipa Ruiz, Couple Coffee, Graveola e o Lixo Polifônico, Karina Buhr e Lirinha.

Os portugueses são muito apegados à música produzida hoje no país?

Os portugueses sempre ouviram muito mais música anglo-saxã do que portuguesa. Daí sempre ter havido mais música pop rock cantada em inglês do que em português (sobretudo entre 1990 e 2005). Nos últimos dez anos, têm havido um certo orgulho por parte de um número cada vez maior de bandas pop rock em expressar-se em português. A cada vez maior divulgação na Europa e no resto do mundo de artistas ligados ao fado têm igualmente provocado o crescimento do número de ouvintes de fado e de outras expressões musicais que emanam portugalidade.

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