Na exposição “Frida Kahlo – Conexões entre Mulheres Surrealistas no México”, que será inaugurada para o público em 27 de setembro no Instituto Tomie Ohtake de São Paulo, os sete autorretratos da mexicana revelam o máximo de seu universo simbólico. Em um deles, de 1943, a pintora retrata-se rodeada de pequenos macacos – e, como diz a curadora Teresa Arcq, os chimpanzés sempre representaram o erotismo na obra da artista. Outro, enigmático, El Abrazo de Amor del Universo, la Tierra (México). Diego, yo y el señor Xólotl, de 1949, ela carrega o marido, Rivera, nos braços e o “señor” da pintura é um cachorro xoloitzcuintle que, desprovido de pelos, é considerado “mágico” desde os astecas.
“O diálogo das artistas é temático”, explica Teresa sobre o conceito da mostra, formada por cerca de uma centena de trabalhos emprestados de 48 coleções privadas e particulares. A prática da autorrepresentação feminina entre as 16 surrealistas apresenta-se como uma questão importante – e numa sequência de obras de Frida, María Izquierdo, Rosa Rolanda, Remedios Varo e Leonora Carrington será possível comparar quão distinto pode ser o olhar de cada uma para si. Desse segmento, ainda, surge outra questão, conta a historiadora. Em uma litografia de 1930, Diego Rivera traça a mulher, Frida Kahlo, nua, como uma musa – o corpo sempre foi um território de conflito para a mexicana. “É um contraste de representações”, define Teresa.
O percurso da exposição, que também passará em 2016 pelas unidades da Caixa Cultural do Rio e de Brasília, vai, assim, costurando relações. Depois dos autorretratos, a natureza-morta é um gênero simbólico rico em referências e alegorias. “Flores, frutas e plantas são usadas para narrar segredos, histórias de amor, sofrimento e alusões a órgãos sexuais”, afirma a curadora. Frida e Rosa Rolanda (1895-1970) rivalizavam não apenas no cultivo de espécies florais como também na cozinha. A mostra fica em cartaz até janeiro de 2016.