As redes sociais atendem a uma das necessidades mais básicas do homem contemporâneo: a de se tornar evidente. Com a diferença de que, a partir delas, ele satisfaz seu desejo de se revelar perante um número considerável de espectadores. Diante dessa plateia virtual, por vezes, acaba perdendo a medida e se expondo além da conta, ou até mesmo tendo sua privacidade sacrificada pelos próprios sites de relacionamento dos quais faz parte.
É o caso da Facebook, que em fevereiro do ano passado alterou sua política de privacidade, concedendo à empresa os direitos sobre nomes e imagens dos usuários para uso em campanhas publicitárias. Na busca pelo caminho mais rápido de gerar receita e de se mostrar como um negócio sustentável, foi alvo de um protesto e perdeu cerca de 31 mil membros, entre seus 450 milhões de usuários. Pouco depois do episódio, batizado de QuitFacebookDay (dia de sair do Facebook), a empresa voltou atrás e garantiu ainda que as próximas modificações seriam votadas pelo público.
Situação semelhante viveu o Google, ao lançar o serviço Google Buzz, uma espécie de Twitter atrelado ao Gmail, que inicialmente deixava expostas informações pessoais daqueles com quem os usuários trocavam mensagens. Também não deu certo.
Diante da reação negativa, a empresa foi obrigada a alterar essa funcionalidade. "Neste caso, talvez o erro do Google tenha sido acreditar que a privacidade havia morrido ou que o interesse das pessoas na privacidade tivesse mudado", analisa o jornalista e pesquisador de mídia Tiago Dória, de São Paulo.
Para o jornalista e professor da UniBrasil Felipe Harmata, pesquisador curitibano de redes sociais, a falta de privacidade dificilmente causaria a falência dessas esferas participativas, porque as relações entre público e privado hoje se misturam na internet. "É uma era de intersecções. O público se mistura com o privado. O pessoal se mistura com o profissional. Em um momento, a pessoa posta determinado conteúdo pessoal. Em outro, replica uma notícia interessante e em outro, pede uma vaga de emprego. Tudo isso dentro do perfil de uma pessoa só. Seja em um blog, perfil do Orkut, Twitter ou até mesmo tudo isso junto."
Por mais que, às vezes, os controles de privacidade desses sites não tenham uma linguagem clara, nem sejam de fácil utilização em sua maioria, as configurações estão a cinco cliques da página inicial do serviço , para a socióloga Aline Matos, que pesquisa trocas interpessoais pela internet como mestranda pela Universidade Federal do Ceará, os usuários das redes sociais não devem ser vistos como ingênuos. "Devemos olhar para esse fenômeno considerando sua dimensão e também atentos ao fato de que o sujeito não está passivo diante disso tudo. Ao contrário, ele se apropria dessas redes de forma bastante peculiar, expõe seus interesses e revela parte daquilo que considera relevante mostrar, sabendo que isso lhe trará perdas e ganhos."



