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Inquilíbrio foi um dos 56 espetáculos a ocupar as ruas da cidade: intenção é ampliar ainda mais as opções gratuitas e ao ar livre | Ester Gehlen/Divulgação
Inquilíbrio foi um dos 56 espetáculos a ocupar as ruas da cidade: intenção é ampliar ainda mais as opções gratuitas e ao ar livre| Foto: Ester Gehlen/Divulgação

Opinião

Sob o signo de Shakespeare

Helena Carnieri

Esta 23ª edição do Festival de Curitiba pertenceu a Shakespeare. As montagens estrangeiras de Otelo e A Violação de Lucrécia apresentaram o melhor que o teatro pode dar, que é o encantamento pela voz e corpo dos atores em meio a outros elementos cênicos. Foi gratificante ver o preparo do grupo chileno Viajeinmóvil, que manipula manequins para recontar a tragédia do Mouro de Veneza, e da dupla Camille O´Sullivan (vocal/narração) e Feargal Murray (piano), que acrescentou sua poesia ao poema erótico do bardo.

Da mesma forma, a equipe argentina de Daniel Veronese acrescentou maestria de atuação e latinidade à versão de Sonata de Otoño, texto do cineasta Ingmar Bergman filmado por ele em 1974. Grupos nacionais também revelaram grande empenho dos atores, como Cais ou da Indiferença das Embarcações.

Já no Fringe, com tantas mostras especiais (eram 11) o tempo foi curto para obter um panorama mais geral. Uma boa surpresa foi conhecer o trabalho do grupo amador Os Bárbaros, de Presidente Prudente (SP), que prometia entregar "Ibsen como você nunca viu" dentro da mostra Adhemar de Barros, pela qual o governo paulista apoia o desenvolvimento do teatro no interior de São Paulo. A Casa de Bonecas proposta por eles brinca com as fartas e realistas rubricas do texto de Ibsen, com o uso de um narrador e uma protagonista Nora devidamente abonecada – até o momento em que se revolta contra as ordens do autor e passa a ter vontade própria, numa releitura da transformação por que passa a personagem norueguesa.

Para jornalistas de fora da cidade que acompanham há tempos o Festival de Curitiba, o evento deste ano trouxe um estranho esvaziamento. Apesar de a organização ter registrado a presença de 230 mil espectadores no total, o grande número de espetáculos na mostra principal (eram 34, mais 4 de rua) causou divisão na plateia – dessa vez não foram tantas as atrações com ingressos esgotados e sempre havia poltronas vagas nas apresentações.

Para Gustavo Fioratti, da Folha de S.Paulo, as ruas pareceram menos ocupadas, apesar da realização de 56 peças ao ar livre. "Ficou a sensação de um evento mais recluso aos teatros e ocupando menos espaços alternativos. O Fringe perdeu sua anarquia positiva", disse durante debate da crítica especializada realizado pelo blog Teatrojornal, do qual a Gazeta do Povo participou. "Depois da organização em mostras, não se tropeça mais em espetáculos-surpresa de que ninguém tinha ouvido falar", explica a especialista em artes cênicas Soraya Belusi.

Também presente ao evento de debate, o crítico Daniel Schenker se preocupa com o que considera uma "vontade de abraçar o mundo", referindo-se ao aumento no número de peças internacionais. Quem discorda é Luciana Romagnolli, ex-crítica da Gazeta do Povo: "É a única oportunidade para o curitibano ver espetáculos que nunca viriam à cidade", pondera.

Em relação à mostra principal, o jornalista de O Globo Luiz Felipe Reis acredita que as escolhas da curadoria ainda são conservadoras – com efeito, as opções consideradas experimentais eram em maior maior número no ano passado.

Sobre as opções artísticas da mostra paralela Fringe, o criador do Teatrojornal, Valmir Santos, destaca o retorno do apuro na dramaturgia e o grande número de transposições literárias – incluindo textos brasileiros recentes, como da curitibana Luci Collin e do gaúcho Caio Fernando Abreu.

"Mário Bortolotto, de Londrina, surpreendeu pela sensibilidade nas questões femininas em Whisky e Hambúrguer", exemplificou Valmir, referindo-se ao texto escrito, atuado e dirigido pelo paranaense.

Também na mostra principal, houve grande número de adaptações de importantes dramaturgos, o que indica que a criação colaborativa, muito popular nos anos 90, não é mais hegemônica.

Acidente

O clima de apreensão permeou toda a extensão do festival depois que o humorista Fagner Zadra sofreu uma fratura na região do pescoço ao ser atingido por uma enorme máscara de isopor duro logo na festa de abertura do evento.

O comediante, conhecido pelas esquetes Tesão Piá!, está internado no Hospital Marcelino Champagnat desde 26 de março, em quadro estável, mas sem movimento nas pernas por enquanto. O último boletim médico divulgado informou que Fagner passará por um tratamento de reabilitação de no mínimo três meses.

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