É um mistério para mim por que, ano após ano, Haruki Murakami aparece sempre entre os nomes mais cotados para o Nobel de Literatura em casas de apostas do Reino Unido. (Talvez seja a prova de que apostadores em não entendem muito de livros.) E esse mistério não se resolve com a leitura de O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação.
Murakami é um bom contador de histórias e vende muito – o que justifica a atenção que recebe toda vez que publica algo novo –, mas é como se os textos dele ficassem sempre na superfície de temas que nunca consegue alcançar de verdade.
Um fato relevante a respeito dele: leitores que gostam de literatura japonesa (e eu conheço alguns) não costumam gostar de Murakami. Ele é o menos japonês dos escritores japoneses. Ele é criticado por ser “ocidentalizado” demais, o que pode explicar o sucesso que faz entre os adolescentes do Japão.
O ponto de partida para Tsukuru Tazaki é uma ideia boa. Na adolescência, o protagonista foi banido do grupo de amigos do qual fazia parte. Eles eram cinco vivendo em Nagoia e compartilhavam tudo – o tempo, as ideias e as ambições. Um dia, sem mais nem menos, o grupo expulsa Tsukuru. Ele não sabe o motivo, mas aceita a decisão sem questioná-la.
Anos mais tarde, com dificuldades de levar um relacionamento e estimulado pela namorada, ele decide reencontrar os amigos para finalmente entender o motivo por trás do banimento. Para Tsukuru, que ainda sofre as consequências da rejeição, saber o que aconteceu deve libertá-lo para seguir com a vida.
Haruki Murakami. Tradução de Eunice Suenaga. Alfaguara/Objetiva, 328 pp., R$ 39,90.
O problema do livro é que ele se concentra apenas em responder perguntas (há um motivo para ele ter sido rejeitado, mas a razão dá origem a várias outras questões). Lendo Murakami, fica claro que respostas diretas e retas não resolvem muita coisa – a não ser para questões exatas. Para dizer o óbvio: relações humanas não são como equações matemáticas e descobrir os porquês, no livro de Murakami, tem o efeito bizarro de deixar o leitor mais insatisfeito que satisfeito (foi o que aconteceu comigo). Teria sido melhor concentrar esforços nas perguntas.
Tsukuru Tazaki tem momentos bons – o autor sabe escrever inícios de livro como poucos –, mas logo a narrativa descamba para elucubrações ingênuas – “Ele passou a sentir o vento soprar, ouvir a água correr, ver a luz que penetra entre as nuvens e a cor das flores de cada estação, de forma diferente da de antes”.
Algumas metáforas não fazem sentido: “Talvez um raio invisível acompanhado de um trovão silencioso tenha cravado bem nítido o nome Tsukuru em sua mente”. E há frases demais que lembram biscoito da sorte: “Objetivos limitados tornam a vida mais fácil”. Em outro momento, Tsukuru diz: “Quero continuar simplesmente pensando, de modo livre e puro”.
Eu poderia continuar com a longa lista de exemplos, mas a conclusão é que Murakami escreve como um autor habilidoso de livros infantojuvenis.
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