Detalhes
Óleo de dendê forma o mar da Bahia
Um mural de 9 metros de comprimento por 4 metros de altura, com azulejos brancos pintados com frases de Jorge Amado e imagens de objetos encontrados na Casa do Rio Vermelho, recebe o visitante da mostra Jorge Amado e Universal, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
A segunda sala é dedicada aos clássicos personagens. Como não daria para nomear todos os mais de mil criados por ele, a exposição apresenta os que têm um DNA que foi emprestado aos outros. Todos os demais são representados por uma instalação com 8 mil fitas vindas da Bahia, como as do Nosso Senhor do Bonfim. Em cada uma delas consta o personagem e o livro em que ele habita. Nove instalações multimídias transmitem entrevistas e áudios.
Saindo do ambiente em que reencontrou Gabriela, Nacib, Tieta, Dona Flor, Vadinho e companheiros, o visitante conhece o lado político de Jorge Amado. Compõem a cenografia mais sóbria dessa sala uma instalação que representa as rotativas da imprensa alternativa em movimento, trechos de obras escritas nesse período de maior engajamento, documentos e imagens.
Cores de Jorge
O ambiente volta a ser colorido na sala dedicada ao sincretismo e à miscigenação. Caixotes fazem lembrar os mercados e feiras da Bahia e são suporte para imagens de santos e orixás. De um lado da parede, placas com os nomes das cores de pele citadas pelos brasileiros em pesquisas. Do outro, as inventadas por Jorge, como a cor de canela de Gabriela.
No maior dos ambientes da exposição, chamada extraoficialmente de Praça Jorges, há até um mar de dendê. Foram necessárias 1,8 mil garrafas pet de 2 litros do azeite, em diferentes estados de decantação, para representar, numa grande parede, o mar da Bahia. Na altura dos olhos, frases sobre o mar.
Perto dessa instalação estão outras menores, que comportam 4 sacas de cacau torrado, responsáveis por levar o cheiro do fruto à Estação da Luz. Sobre um banco à frente do mar alaranjado, foram colocados livros lidos por Jorge ao longo de sua vida. "Todo mundo conhece Jorge a seu tempo e ao seu jeito. O visitante vai chegar de braço dado com o seu Jorge e, se cumprirmos nossa missão, vai sair com muitos outros", diz a curadora Ana Helena Curti.
Dos autores brasileiros, Jorge Amado talvez seja o mais local, universal e internacional. Escrevia a partir da Bahia, sobre coisas da sua terra e sua gente, e seus livros encantavam leitores do mundo todo. Pelas contas da Fundação Casa de Jorge Amado, a obra do escritor baiano foi traduzida para 49 idiomas e premiada em lugares tão diversos quanto a ex-União Soviética, a Itália e a França, sem contar o Brasil.
Gabriela Cravo e Canela, Tocaia Grande, Capitães da Areia, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Os Subterrâneos da Liberdade, Bahia de Todos os Santos, Mar Morto e Navegação de Cabotagem são apenas alguns dos livros que escreveu em seus 89 anos de vida. Vida essa que será apresentada a partir de hoje, na exposição Jorge Amado e Universal. Ela fica em cartaz até o dia 22 de julho no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, de onde segue para Salvador. Chega lá em 9 de agosto, um dia antes da festa do centenário de nascimento do escritor.
A ideia da organização é que a mostra não fique restrita a essas cidades, embora os R$ 3,2 milhões captados pela Lei Rouanet devam ser usados exclusivamente nessas duas iniciativas. Já está quase certa uma temporada no Recife. Rio de Janeiro, Brasília, Lisboa e a cidade do Porto, em Portugal, também demonstraram interesse, conta William Naked, diretor-geral da exposição, que sonha até com uma ida à Feira do Livro de Frankfurt em 2013, quando o Brasil será o país homenageado e exposições como essa serão bem-vindas.
Superlativo
Difícil será transportar a Bahia criada nos 420 m² do espaço do museu para esses outros lugares. São 8 mil fitas do Nosso Senhor do Bonfim, 1,8 mil garrafas de 2 litros de azeite de dendê, 4 sacas de cacau, mais de 600 imagens, 80 documentos originais, 110 livros, 243 placas de cronologia. Tudo para dar a dimensão de quem foi e o que produziu Jorge.
"Jorge Amado foi quem mais escreveu, mais foi traduzido, mais foi premiado. Se ele é superlativo, então a mostra também é", explica a curadora Ana Helena Curti. Que o visitante não espere um formato quadrado e cronológico ou cenas de novelas e filmes, que tanto ajudaram a popularizar sua obra.
Para a curadora, não faria sentido apresentar o que o público já conhece e a ideia não é ser tão didático. "O visitante trará tais impressões consigo, mas esperamos que ele possa somar novas informações e imagens a essas que já possui."
Vídeos produzidos pela O2 Filmes, com depoimentos do próprio escritor, de estudiosos de sua obra, amigos e familiares ajudam a compor o universo do autor. Mas o visitante vai poder ver ainda manuscritos, fotos de viagens e de seu dia a dia, cartas recebidas de amigos ilustres, exemplares estrangeiros, livros de sua biblioteca particular e até sua coleção de camisas havaianas.
Serviço: Jorge Amado e UniversalMuseu da Língua Portuguesa (Estação da Luz, Pça. da Luz, s/nº, Centro, São Paulo), (11) 3326-0775. Visitação de terça-feira a domingo, das 10 às 17 horas. Ingressos a R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). Em cartaz até 22 de julho.
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