O cantor e compositor Vitor Ramil apresenta hoje, no Teatro Sesc da Esquina, as milongas de seu último disco, Délibáb (2010), ao lado do violonista Carlos Moscardini. Todo o repertório é baseado nas composições de Ramil sobre os poemas do argentino Jorge Luis Borges e do gaúcho João da Cunha Vargas, além de algumas composições do disco Ramilonga, de 1997. As músicas serão apresentadas nos arranjos em que foram gravadas apenas voz e os violões de Ramil e Moscardini.
"É um show muito próximo da literatura", diz Ramil. "Para mim, a milonga é um gênero que está no meio do caminho entre a literatura e a música, pela importância da palavra, do que é dito, pela densidade. É como se a música te arrastasse. Tu entras para dentro dela, tu paras para ouvir, porque ela pede concentração", diz Ramil, que elegeu a milonga que, conforme explica, significa "palavras" num dialeto africano como o eixo central de seu trabalho.
Milonga
O músico, que inventou o que chama de "a estética do frio" , que, em sua opinião, simboliza o Sul do Brasil , combate a ideia de que o gênero é uma música do folclore, antiquada, ou "pesada". Incorporando a milonga a sua pesquisa musical e influências diversas, diz tentar "situar o gênero num contexto brasileiro da canção sofisticada e, ao mesmo tempo, com força popular" desde que percebeu a necessidade de se guiar por uma estética própria.
O resultado de Délibáb superou suas expectativas. O disco teve boa recepção e foi listado como um dos melhores de 2010 em alguns dos maiores jornais e revistas do país, além de ter despertado interesse em Portugal. "Imaginei que, sendo um disco metade em espanhol e metade em dialeto gauchesco, ele teria alcance muito restrito. Mas foi o contrário", diz Ramil. Na Argentina e no Uruguai, países em que a milonga é um dos principais gêneros populares, o disco também chamou a atenção.
"Ficou caracterizado que a gente está fazendo uma milonga, talvez, com muito mais novidade que nesses lugares. A milonga está muito mais presente como música contemporânea para nós do que lá, em que continua sendo mais do folclore", diz Ramil. "Para muita gente, houve uma leitura de que o que faço com a milonga é um pouco parecido com o que fez o Piazzolla em relação ao tango puxar essência do tango para uma linguagem contemporânea."
A escolha pelos poetas também se relaciona com a busca de Ramil pela identidade de sua música, inevitavelmente ligada ao imaginário gauchesco. Ele diz compor sobre os poemas de Borges e Vargas desde seus primeiros trabalhos. "O Borges é um homem célebre no mundo, um homem da alta cultura, e o Vargas é um homem do campo", explica Ramil, que convida o público a ler mais sobre o disco e outros trabalhos, que também passam pela literatura, em seu site oficial (www.vitorramil.com.br).
"Borges escreveu ensaios sobre a poesia gauchesca e, até tentou, quando era menino, mas não conseguiu manusear o dialeto gauchesco. Esses que musiquei, ele não chamava de poemas, mas de milongas, como se já estivessem prontos para serem cantados", diz. "Já o Cunha Vargas é o próprio gaúcho, que viveu até os 20 anos na fazenda. Sua poesia toda fala disso, das memórias do campo. Ele poderia ser um personagem do Borges."
Serviço
Vitor Ramil. Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Hoje, às 21 horas. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (trabalhadores do comércio, dependentes de comerciários e estudantes).
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