Primeira artista pop a vencer as barreiras geladas de seu país natal, a islandesa Björk consolidou seu nome no cenário musical mundial graças a uma bem-sucedida pesquisa de ritmos e um estilo vocal único, que se tornou sua marca registrada. Em sua terceira passagem pelo Brasil, a cantora traz ao Tim Festival (edições de Curitiba, São Paulo, e Rio de Janeiro) o show da turnê mundial de lançamento de Volta, seu sexto álbum-solo, espetáculo visto por milhares de pessoas desde abril, na Europa, EUA e Canadá.
Mais rítmico e dançante, ao contrário do trabalho anterior Medulla, no qual utilizou apenas sua voz, Volta conta com a participação de convidados como o produtor de hip-hop Timbaland, o músico Antony Hagarty (da formação Antony and the Johnsons, que também se apresenta na edição paulistana do Tim Festival 2007), e a utilização de instrumentos pouco conhecidos, como a harpa africana kora ou o alaúde chinês pipa.
Nesta entrevista exclusiva, concedida a um pequeno grupo de jornalistas brasileiros há duas semanas, por e-mail, de Nova Iorque, Björk fala da cultura islandesa e aborda temas como política, globalização e a relação do artista com a música na era da internet. A cantora explica ainda as influências presentes em sua música, revela o que tem ouvido recentemente e dá detalhes sobre o show que apresenta na Pedreira Paulo Leminski, na próxima quarta-feira, dia 31. Confira a seguir alguns trechos da conversa (a entrevista na íntegra pode ser lida no site www.gazetadopovo.com.br/cadernog).
Você já se apresentou no Brasil duas vezes e no início deste ano esteve de volta ao país, acompanhando o carnaval baiano. Como foi essa experiência?Björk Foi extraordinária e muito especial para mim. Fui à Bahia porque meu namorado (Matthew Barney) estava fazendo um projeto por lá. Mas sou da Islândia e sou bastante consciente de que as pessoas dos EUA e da Inglaterra me acham exótica, o que é uma coisa totalmente esquisita, pois 90% do mundo é exótico. Por ser ciente e bastante defensiva sobre isso, não achei que poderia ir ao Brasil, comprar uma camiseta local, pegar um tamborim e sair cantando como uma turista. Não fiz isso quando estava aí. Às vezes, sinto que tenho muito respeito.
E, desta vez, o que espera de seu retorno ao Brasil?Para mim não é só o Brasil, pois estarei visitando cinco países. Talvez quando eu estiver por aí, vou dizer: ah, OK, é o Brasil! (risos). Mas estarei visitando o Peru e a Colômbia pela primeira vez. Então, estou bastante empolgada com isso. No Chile, eu já estive antes, mas apenas por dois ou três dias. Depois de passar pela Colômbia, eu vou pegar um barco e viajar até o México. Terminei uma turnê de cinco meses pela Europa e pelos EUA, então, estou muito feliz em viajar para outros lugares. No México, devo me apresentar próximo a um vulcão. Mas é muito difícil viajar assim, com tanta gente, numa turnê. É muito dispendioso e você acaba ficando no zero. Mas pelo menos eu não perco nenhum dinheiro.
A reportagem do Caderno G teve a oportunidade de assistir a seu novo show no festival dinamarquês de Roskilde, a convite da Tim. O show que está trazendo ao Brasil será diferente daquele?É o mesmo show. Mas ele cresceu um pouco, pois fomos ficando melhores com os instrumentos. Este ano os instrumentos eletrônicos que usamos se tornaram mais impulsivos. Aprendemos a tocá-los melhor. Acho que muitas das canções de Volta foram escritas para performances ao vivo, então, a versão em CD não é a melhor maneira de ouvi-las. Acho que elas acabaram crescendo ainda mais no palco.
É possível afirmar que a música brasileira influenciou Volta em algum aspecto?Sempre fui muito fissurada por ritmos. Estava tentando sugerir que os ritmos neste álbum são muito globais, mas as pessoas têm idéias negativas sobre a globalização, de que é tudo a respeito de supermercados, McDonald's e de que as pessoas nos Estados Unidos estão se transformando nos senhores do universo. Mas acho que tem o outro lado disso, de que a gente é o que queremos fazer. Por que deixar tudo por conta do Bush? Nós somos seis bilhões! E só tem um dele. Para mim, o álbum foi uma maneira de sugerir que estou cheia do nacionalismo, das pessoas dizendo isso ou aquilo, de controvérsias.
Seu novo show conta com recursos visuais econômicos, porém bastante impactantes, como seus figurinos e os próprios instrumentos utilizados durante as canções. Acha fundamental o casamento entre elementos visuais e sonoros no palco?Não muito. Acho muito difícil de fazê-lo porque a maioria das pessoas tem a visão muito mais desenvolvida que a audição. Quando o público é apresentado a muitas imagens visuais, é como se ele estivesse assistindo à tevê. As pessoas não se tornam presentes no momento, elas se desligam. Geralmente, tenho uma ou duas canções no início do show que acontecem no escuro, pois assim as pessoas se ligam na audição. O lado visual é geralmente o mais expressivo. No passado, eu usei muitos fogos de artifício, hoje eu trabalho mais com laser e confete, então, não são mais imagens figurativas a serem contempladas. São mais emoções visuais impressionistas, porque acho que é uma sensação muito importante. Shows que têm muita poluição visual acabam estimulando apenas um hemisfério do cérebro e você passa a não ser mais impulsivo.
Você descreveria sua música como algo cinemático?Tento fazer uma música que é parte da vida. Não vejo a música pop como uma experiência isolada dentro de um estúdio. Acho que música tem que ser como andar pela rua e mostrar a seus amigos a emoção que você tem. Ela deve ser casada com sua vida e não uma experiência isolada que acontece dentro de uma bolha musical.
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Serviço: Tim Festival Shows com Hot Chip, Björk, Arctic Monkeys e The Killers. Pedreira Paulo Leminski (R. João Gava, s/n.º). Dia 31 de outubro, às 19 horas. Os ingressos custam R$ 60 e estão à venda nas lojas Fnac ParkShopping Barigüi e Livrarias Curitiba (Rua das Flores e shoppings Mueller, Curitiba e Estação). Estudantes e idosos pagam meia-entrada mediante apresentação de documentação válida. Clientes Tim contam com 20% de desconto na compra do primeiro par de ingressos (inteira ou meia-entrada).
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