Michel Laub, enquanto pessoa, é de certa forma leve. Ou cool, como costuma-se dizer em relação a pessoas que são despretensiosas, afáveis e sabem escutar. Mas a literatura que ele produz é pesada. Todos os seus quatro romances falam de perdas. Os dois mais recentes, O Segundo Tempo e O Gato Diz Adeus (Companhia das Letras), tratam de separações. Laub, atualmente solteiro, reconhece que faz uma literatura forte, visceral. Lembra que a arte tem de ser feita a partir de conflitos, nunca sobre a felicidade.
O cotidiano do escritor gaúcho é, de acordo com as suas próprias palavras, caótico. Só tem alguma rotina em relação ao trabalho. É o coordenador da área de internet do Instituto Moreira Salles, situado a "duas estações do metrô" do apartamento onde ele vive há mais de uma década, em São Paulo. Não reclama da poluição, do trânsito nem de nenhum outro item urbano. O que lhe interessa é a paisagem humana. "São Paulo atrai muita gente de outras cidades, geralmente pessoas que gostam do que fazem, portanto, pessoas interessantes."
Laub é mais não-dito do que qualquer prosa. Questionado se é boêmio, diz que não, mas conta que tem dormido apenas três horas por noite. Ao ser indagado se lê clássicos, conta que já "leu mais", mas enfatiza que não se sente obrigado a ler nada. Abandona livros pela metade, da mesma maneira que deixa copos com alguma quantidade de vinho sobre mesas de restaurantes, quando a bebida não o agrada.
Tornar-se escritor, na avaliação de Laub, é quase como acertar os seis números da Mega-Sena. Algo pouco provável de acontecer. Ele tem a impressão de que nenhuma criança diz que, quando crescer, pretende ser escritor "a não ser o (escritor) Daniel Pellizzari, que desde pequeno já escrevia." Uma criança, em geral, e em média, sonhar dirigir um carro da McLaren, ser astronauta ou vir a ser um fenômeno do futebol. Tudo menos ser escritor. Ele mesmo tinha outros planos. Queria ser roqueiro. Teve uma banda, a Ratos de Bueiro, que não deu certo. A roda do mundo girou e ele foi para caminhos que nem imaginava conhecer.
A tristeza presente em sua ficção, reconhece, também começou a ser construída a partir de muitas canções que ele ouvia na década de 1980, sobretudo o repertório da banda inglesa The Smiths. Mas o fato de ter nascido em Porto Alegre, queira ou não, foi decisivo para ele vir a ser um escritor. Seja pelo fato de que, no Rio Grande do Sul, ler é algo quase tão comum como sorver chimarrão, mas, principalmente, devido a um curso de formação de escritores, ministrado já há duas décadas por Luiz Antonio de Assis Brasil. Essa oficina revelou nomes reconhecidos em todo o Brasil, como Clarah Averbuck, Cintia Moscovich e ele mesmo. Mas Laub reconhece que literatura tem relação direta com uma intensa vida interior, algo que nenhum curso pode proporcionar.
Laub acredita que, para escrever, é necessário ter talento, algo que, "ou você já nasce com (talento)", ou não tem jeito. Ele é talentoso. Antes de publicar livros, já exibia o seu texto em matérias publicadas na revista Bravo!, ainda em 1999. Formou-se bacharel em Direito, mas não seguiu por veredas jurídicas. A literatura, praticamente, "atropelou" a sua vida. Laub é sério, e só emite sorrisos quando está incomodado com alguma pergunta. Evita falar de vida pessoal. É como se não tivesse "intimidade", ou, de outra maneira, não quisesse se expor. Não quer saber de psicanálise, mas a sua vida pode estar, toda, na literatura que escreve.
Ele parece uma pena, de tão leve. Mas a sua literatura é um soco no estômago.
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